Viagem à lua (26 de setembro de 1956)


O cientista argentino Teófilo Tabanera (1909 + 1981, retratado por Ramón Columba), discursando na VIII Conferência Internacional de Aeronáutica, realizada em Roma, declarou, perante mais de 400 homens de ciência de vários países do mundo, que somente daqui a 15 anos será possivel mandar o primeiro avião-foguete à lua. E foi mais longe, declarando que o referido veículo inter-planetário conduzirá passageiros humanos.

Até aí, nada de mais. O povo, ao que parece, mostra-se ainda um tanto cético com referência às futuras viagens para o desconhecido satélite. O que nos causou certa espécie, ao ler o telegrama que dá conta dos pormenores desses estudos, foi a ciumeira que já propiciou a surgir em torno dessas eventuais viagens à lua! Os leitores duvidam? Pois o fato é verdadeiro mesmo. Sob um certo aspecto, curioso, uma vez que partiu de homens que queimam as pestanas sobre livros e que cançam o pescoço de tanto olhar pelos gigantescos telescópios. “O espaço não deve pertencer a ninguem” – declarou Tabanera. E mais adiante: “Vênus e Marte não devem pertencer a nação alguma”. Haley e outros cientistas presentes, declararam que os russos têm guardado silêncio completo, quanto aos seus planos e progressos na mencionada matéria.

Um astrônomo norte-americano comentou que ninguem sabe o que estão fazendo os russos, mas que com certeza terão planos para domínio de Marte e da Lua. Tabanera retrucou que os Estados Unidos estão interessados em apropriar-se do espaço, a considerar pelos progressos nesse campo, que são presentemente maiores e mais perfeitos do que os de seu país, a Argentina.

Vejam os leitores, atentando bem para tais tipos de conversações: Numa conferencia de cientistas internacionais, para tratar de um assunto que deve ser mais sério do que se pensa, saindo com “fanfarronadas” dessa espécie! Criando uma ciumeira dos diabos, já por uma conquista, que ninguem tem muita certeza de que venha a ser viável!

Parece até brincadeira própria de crianças e não de homens de estudos! Estudam-se condições atmosféricas, densidade do gráu do oxigênio, se ha ou não água, vegetação ou vida da Lua, quais os tipos de aparelhos que lá poderão chegar, como isto poderá acontecer, etc.. E os homens já se desentendem, atribuindo-se, entre si, interesses de domínio de uma coisa cuja possibilidade real ainda está no terreno das cogitações. É até para rir, mesmo. Se as conversas a respeito partissem de um “joão ninguem” num bar da cidade ou num campo de futebol, vá lá. Mas numa conferência cientifica, onde se reuniram os mais renomados homens da ciência respectiva, surgir questões como a que acabamos de citar, é para se perder a esperança em muita coisa neste mundo! E em muita gente também.

Pelo amor de Deus!!!

Extraído do Correio de Marília de 26 de setembro de 1956

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