“Presente de Grego” (19 de setembro de 1956)

O que o Brasil está sentindo, a esta altura, com referência ao estado inflacionário presente, sem precedentes em nossa história, é o reflexo indiscutível do autêntico “presente de grego” que nos legou o sr. Presidente da República, com o decantado novo salário mínimo.

Os líderes sindicais, quando intentaram os movimentos reivindicatórios do reajustamento dos níveis salariais, tiveram em objetivo, unicamente, oferecer ao operariado do Brasil, melhores condições de subsistência. Mas, não resta dúvida que laboram um êrro que teve no próprio Presidente da República o maior responsável, quando sua excia. anunciou, com incrível antecipação, e, sem qualquer medida acauteladora e necessária, a concessão do aumento dos ordenados mínimos, dando tempo, margem e oportunidade, a que se pusessem em campo aquêles que, agora ficou provado, trabalharam e trabalham contra o próprio Brasil em defesa de suas próprias burras e interêsses condenáveis.

Naquela ocasião, quando foram lançados os primeiros “balões de ensaio” dos aumentos dos salários, deveriam os dirigentes sindicais, interessados diretamente na questão, ter ao menos sugerido ao poder central o norteamento da situação, com providências concretas e imediatas, destinadas a estabilizar o custo de vida. Agora a situação tornou-se difícil e desafia a argúcia, a capacidade de trabalho e mesmo o sentido de brasilidade de muita gente do govêrno. E, confessamos, temos as nossas dúvidas de que ainda exista alguém com “peito” suficiente para debelar o mal.

A respeito, vejamos o que escreve a “Folha Popular”, da cidade de Sorocaba:

“Não é também o simples congelamento de preços, ou a estabilização impossível de sete gêneros de primeira necessidade, que constitui a raiz de tôda essa problemática. Sabe-se que para o govêrno evitar a espiral dos preços, deverá por iniciar debelando a inflação, quer dizer, cortando os males na sua causa. Mas a inflação é um mal que não pode ser curado com um simples decreto governamental, como é óbvio, pois isso seria o mesmo que votar a lei Capistrano de Abreu, obrigando a todo brasileiro ter vergonha.

Não estamos ante fatos que podem ser resolvidos com simples penadas de gabinete, principalmente quando são elas demagógicas, como foi o caso do novo salário mínimo, ou quando visem adiar apenas a soluços dos problemas.

A situação para ser resolvida, depende de medidas amplas e conjuntas, a serem estudadas e postas em prática. O desequilíbrio do orçamento federal, consequentemente em grande parte do empreguismo que tem imperado no país nos últimos dez anos, os gastos supérfluos do govêrno, o aumento constante dos impostos e taxas, de tarifas e de tudo que o presidente da República usa para contrabalançar suas despesas, responde pela anomalia da situação. Há outras razões, também, que diretamente não estão afetas ao govêrno, embora indiretamente estejam, como é o caso do especulismo.

Se os líderes sindicais, e todos aquêles que tomaram parte no movimento nacional pró elevação dos níveis de salários, dispendessem o dinheiro que gastaram com suas sucessivas reuniões, e inúmeras viagens à Capital Federal, usando-o para elaborar um plano racional, submetendo-o ao chefe da Nação e exigindo o seu cumprimento, talvez hoje já estivessem colhendo melhores resultados”.

Extraído do Correio de Marília de 19 de setembro de 1956

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