Nós não moramos em Niterói... (25 de setembro de 1956)


Os leitores conhecem aquela anedota atribuída ao lusitano, que foi abordado no Rio de Janeiro, por um gaiato, que lhe disse sua casa em Niterói estar pegando fogo e sua morrendo queimada? Pois segundo reza a piada, o bom português, dentro de sua natural boa fé, tomou a barca e rumou para a capital do Rio de Janeiro. Só lá chegando é que se recordou que não era casado, não tinha mulher e nem casa e nem morava em Niterói...

Conosco, agora, poderemos dizer o mesmo, com a questão do Canal de Suez. Em verdade, o que é que temos com isso?

No entanto, o Brasil já está prevendo que vai ser convidado a emitir a sua opinião a respeito do tormentoso problema, que, ao que parece, é barril de pólvora da terceira guerra mundial.

Apesar dos noticiários a respeito, temos a impressão de que não estamos ainda bem informados acerca dos acontecimentos que envolvem política internacional e interêsses comerciais de alguns países. Ainda os ovos se encontram na frigideira e ninguém sabe a gordura que vai sobrar.

O chanceler Macedo Soares (José Carlos de Macedo Soares, foto, chefe do Itamaraty de 1955 a 1958) já tem o seu ponto de vista formado a respeito da questão, que será o parecer oficial do Brasil, para ser apresentado na ONU, caso o Egito interpele nosso país. Tal parecer já é de conhecimento do Presidente da República e espera o Brasil ser interpelado naquela assembléia, a respeito dessa questão.

Acrescentou o chanceler Macedo Soares que “a resposta brasileira ao apêlo do Egito será baseada, apenas no aspecto jurídico do caso, deixando de lado qualquer ponto de vista de ordem política”.

O que pensar a respeito? Se o negócio “pegar fogo”, como parece que vai acontecer, estaremos moralmente comprometidos, pois nossa opinião não deixará de fazer peso na balança das opiniões e das discussões a respeito. O parecer do Brasil por certo terá que pender, mesmo sob o aspecto jurídico, para uma das partes. Se a parte em tela vencer a questão, o Brasil sairá airosamente do “abacaxi”. Se, ao contrário, constatar-se prejudicada, nosso país terá contra si, as atenções da parte perdedora.

Pensando bem, será um autentico “imbroglio” para nós. Daí, o parodiarmos o português da anedota e dizermos também: Não moramos em Niterói; o que é que temos com isso?

Extraído do Correio de Marília de 25 de setembro de 1956

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