A mentira está generalizada (22 de setembro de 1956)

Hoje em dia, a mentira, a terrível mentira, está mesmo generalizada. Todos mentem, cada qual em doses maiores ou menores. Mesmo os mais bem intencionados.

No comércio, principalmente, a mentira chega a ser “caso de polícia”. A deslealdade é alguma coisa de palpável, incrível, fantástica. Denunciou há pouco a imprensa, os processos de alguns laboratórios farmacêuticos, impingindo ao público, drogas fraudadas e absolutamente inócuas. Compra-se casimiras “made in São Caetano” por legitimas inglesas. Adquirem-se bugigangas de matéria plástica, de fabricação nacional, como autênticas americanas.

A gente, às vezes, encontra na rua alguém a quem não aprecia. E, no entanto, ao cumprimentar o indivíduo, diz, sencerimônia “prazer em vê-lo”, quando intimamente está dizendo “não vou com a sua cara”. Diz-se “bom dia”, mesmo quando o tempo está ameaçador e carrancudo. “Feliz viagem e breve regresso”, diz-se a alguém que vai viajar e que não nos é “persona grata”, quando se faz votos íntimos para que a pessoa nunca mais retorne ao nosso convívio. “O sr. é um colosso, um homem admirável”, dizemos ao político, quando na realidade, pensamos: “você é um salafrário de marca maior”. E assim por diante.

Em política, no entanto, a coisa é diferente. Principalmente por parte dos carcomidos políticos profissionais. “Ora, não se incomode; eu vou dar um “jeitinho” no seu “negócio”... É mentira deslavada que essa casta prega aos ingênuos, pois, na realidade, jamais se preocupam com o povo. “Farei em cinco meses, cinco anos de progresso no Brasil” – declarou o sr. Juscelino Kubitschek em sua campanha eleitoral. “A carne, de 14, baixará para 6 cruzeiros” disse uma ocasião o sr. Adhemar de Barros. “Nove entre 10 “estrelas” de cinema usam o sabonete X”. “O petróleo é nosso”, apregoam os comunistas. O MAC vencerá o Tupã”, diziam os marilienses, antes do último domingo. “Eu jamais roubei o governo”, declara o comerciante que tem a escrituração duvidosa.

No tópico anterior principiamos a falar em mentiras na política e, no entanto, fugimos ao objetivo, tendo enveredado por outro caminho. Foi pena. Entretanto, foi inevitável. É impossível falar-se simultaneamente em mentira e política – pleonasmo.

Extraído do Correio de Marília de 22 de setembro de 1956

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