Um gesto antipático (10 de agosto de 1956)

Não vamos aqui discutir o aspecto legal da questão, por não ser da nossa competência. Nem pretendemos cercear direitos preceituais de quem-quer-que seja. Acontece que a Drogasil, com sua teimosia em querer permanecer com seu estabelecimento aberto depois das dezoito e até vinte e duas horas, irá, fatalmente, precipitar o fechamento da Farmácia Noturna. Isso porque a Drogasil, com maior estoque e em ponto mais central, monopolizará para si o forte do movimento farmacêutico noturno, ou seja, o compreendido até o horário das vinte e duas horas. Todos sabem que depois dêsse período, só recorre a uma farmácia, quem tem urgência inadiável e na maioria das vezes em casos graves. Óra, com o fechamento da Farmácia Noturna, em conseqüência direta da teimosia da Drogasil, o prejudicado será o próprio povo mariliense.

Permanecer com a farmácia aberta durante toda a noite, não é privilégio da Noturna e nem de ninguém. Por que, então, uma vez que a Drogasil insiste em só fechar suas portas às 22 horas, não “vara” noite a dentro, colocando-se à disposição da população mariliense, como faz a Noturna? Porque, unicamente, a firma citada só está cogitando de interesses comerciais, relegando a plano secundário as necessidades coletivas.

Não ha dúvida, de que se a Drogasil cumprir o que pretende, a Farmácia Noturna terá que fechar suas portas, em detrimento do público em geral. E isto será, em todas a extensão do vocábulo, um gesto dos mais antipáticos.

Pergunta-se ao povo mariliense, quantos benefícios já usufruiu êste mesmo povo, quando, na cala da noite ou em alta madrugada, viu um ser querido necessitar de um medicamento de urgência. Pergunte-se, por outro lado, a gentes de outras cidades, onde tal melhoramento de progresso não existe e onde os que precisam de uma droga numa dessas horas, de quantos sacrifícios, tempo e aflições tais situações criaram. Pergunte-se ao povo, se os males graves e súbitos só ocorrem até as vinte e duas horas, quando a Drogasil ficará fechada.

A questão aqui, embora seja comercial para a Drogasil, é humana para nós, marilienses. Se a firma sempre colaborou com o próprio povo, acompanhando as demais farmácias, no encerramento de suas atividades às 18 horas, para que a Farmácia Noturna trabalha dêsse horário até às 8 horas do dia seguinte, porque não continuar a favorecer o público em geral, continuando êsse mesmo horário de trabalhos?

Repetimos: o gesto da Drogasil, a êsse respeito, é dos mais antipáticos e acarretará, fatalmente, prejuizos para a população. Se é isto o que a mesma busca, não poderá queixar-se, para o futuro, se à ela forem imputadas responsabilidades do que possa acontecer a um mariliense, que morrer durante a noite, por dificuldades na obtenção de remédios e tratamento farmeceuticos.

Este é a verdade.

Extraído do Correio de Marília de 10 de agosto de 1956

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