Um cavalo num telhado (29 de agosto de 1956)

Por certo os leitores pensarão que se trata de alguma fábula de Esopo, o que iremos descrever sob o epígrafe dêste artigo. No entanto, nada de fábulas, nada de ficções. O fato aconteceu “no duro”. E não foi nos Estados Unidos e nem tampouco na China. Foi na bela São Sebastião do Rio de Janeiro.

A imprensa de vários pontos do país, publicou, na última sexta-feira, o seguinte telegrama:

“RIO, 23 (SE) – Os bombeiros do Posto de Ramos foram chamados às pressas, na tarde de hoje, para atender a um caso “sui generes”. Escorregando pela ladeira do Morro do Alemão, na praça do Carmo, em Bonsucesso, um cavalo, que fugira do pasto, rolou e foi estatelar-se de encontro ao telhado de uma residencia, à rua Frei Gaspar. Depois de pisotear o telhado, quebrando todas as telhas, o cavalo foi a muito custo, retirado pelos bombeiros.”

Imaginem o espetáculo curioso e grotesco, que deve ter despertado aos curiosos o ver um cavalo sobre o telhado de uma casa! Façam a idéia do susto pelo qual devem ter passado os moradores dessa residencia, ao sentirem o barulho e a quebra de telhas e constatarem o pacato animal, sobre o teto, por certo mais admirado ainda.

O caso não será, tanto assim de admiração, embora seja “sui generis”, conforme afirma o radiograma. É bem verdade que não é comum um cavalo ir parar sobre o telhado de uma casa. O prefeito da Capital Federal bem que poderia condecorar o referido animal, uma vez que o pacato cavalo “fujão” assustou muita gente, mobilizou uma guarnição de corpo de bombeiros e foi objeto de manchetes em jornais. Ainda ontem, nosso companheiro João Jorge fazia considerações acerca de penumbra política e quase penumbra social em que se encontram os ex-Presidentes da República. Em realidade, poucos antigos Chefes da Nação tiveram através da imprensa, motivos de tanto entusiasmo em divulgações como o caso desse animal.

Para alguns, o cavalo pode parecer um “burro”, eis que “bobeou” na ladeira e caiu. Para outros, a coisa pode parecer normal. O fato é que o cavalo ficou “por cima” de muita gente, quando sempre viveu “por baixo”. Sobre o telhado o animal deve ter ficado num nivel elevado, inclusive para muita “gente bem” que campeia nesta terra que Pedro Alvares Cabral descobriu por um mero acaso.

Se tudo sobe nesta terra, se tudo anda tão elevado, que mal ha num cavalo ter tambem a sua “chance” de “subir” ao menos uma vez na vida?

Extraído do Correio de Marília de 29 de agosto de 1956

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