Obrigado ‘dona’ COFAP! (25 de agosto de 1956)

Repetidas vezes temos afirmado nossa pouca fé em certos organismos controladores de preços, integrados, em grande parte por pessoas que representam, em realidade, uma casta e não uma classe.

A COFAP é um deles. Seus membros, quando representam facções de indústria e comércio, deveriam, ao contrário, representar o industriário, o comerciário, etc.; isto é, deveriam representar os miseráveis e não os potentados.

Aliás, isso é um mal nacional. Sabemos, por exemplo, que diversos deputados federais e estaduais, que integram comissões representativas nos parlamentos, são pessoas que representam, em realidade, causas próprias. Assim, “representa” a pecuária o grande pecuarista, as usinas o grande usineiro, a industria o poderoso industrial, etc.

E os resultados, aí estão: infalivelmente, cada reunião de orgão dessa natureza traduzem maiores dificuldades para o povo brasileiro. Até trememos de medo, quando COFAPS, COAPS etc. se reúnem. Adivinhamos sem dificuldades, que mais uma escorcha virá sobre os ombros do povo sacrificado.

As classes interessadas em novos aumentos, apresentam relatórios e razões, que “provam” as necessidades de novos preços (para mais, é lógico), motivos esses que os membros dos organismos aceitam com facilidade, porque, em realidade, muitos desses membros tiram também a sua casquinha, como interessados diretos e indiretos. Pelo menos, até aqui, isto tem sucedido. E não é segredo para ninguem.

Não temos conhecimento de nenhuma reunião da COFAP que não tenha redundado em novos aumentos de preços!

Esperavamos o aumento do custo do leite. E veio, como anteviamos. Com precisão matemática e distribuição equitativa: um pouquinho para o produtor, um tanto para o revendedor, a parte do Governo nos impostos, etc. etc.!

O povo que se dane, que vá para o diabo, é o que devem pensar os “controladores de preços.”

“Dona” COFAP não surpreendeu ninguem, com a autorização do aumento do preço do leite. Pelo contrário, causaria grande admiração para nós, se de qualquer uma de suas reuniões, redundasse um categórico e positivo “não”, aos clamores dos “tubarões” e dos potentados. Bem, isso, seria sonhar e hoje em dia não ha tempo para sonhos... principalmente para deliciosos como êsse aventado.

Mais uma tira acaba de sair dos costados do povo brasileiro, graças a interferência do organismo incumbido de defender êsse mesmo povo.

Em nome da miséria e das dificuldades dos chefes de família, em nome da fome de milhares de crianças depauperadas e sub-alimentadas deste imenso Brasil, apresentamos nossas congratulações ao citado organismo.

Obrigado, “dona” COFAP!

Extraído do Correio de Marília de 25 de agosto de 1956

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