Jornais velhos (15 de agosto de 1956)




Certa ocasião, um amigo comum e leitor desta secção, nos ofereceu alguns números de jornais antigos. Para coleção – explicou. Na oportunidade, brincamos com essa pessôa, dizendo aceitar de bom gosto, pois tentaríamos colecionar jornais de antanho, uma vez que estava falhando o nosso intento em colecionar notas de mil cruzeiros.

E a pessôa cumpriu a promessa. Veio trazer-nos um embrulho contendo jornais de São Paulo e do Rio de Janeiro, em edições cujas datas variam de 1907 até 1933. Por falta de tempo, só ontem tivemos o ensejo de “correr os olhos” sobre os exemplares, já amarelecidos pelo transcurso dos anos. Passamos alguns momentos agradabilíssimos, deliciados com a leitura disso que para muitos são imprestáveis e para nós constituem uma verdadeira relíquia.

Como era diferente a vida antigamente! Casas chiques, em bairros idem, alugavam-se por preços que por dia o inquilino vinha a pagar menos do que custa hoje um simples sanduíche de pão e mortadela. Política, então, punha em destaque nomes de vultos que hoje figuram como jóias da própria vida nacional e que tem seus nomes perpetuados em diversos pontos de várias cidades e capitais do Brasil.

O ortografia antiga, impecável, oferece uma sensação de curiosidade para a gente, com os seus “promptos”, “pharmacias”, “effectivos”, “dannos”, etc.

Perdemos boas horas, manuseando o pacote de periódicos, com satisfação incrível. E quando o tempo não mais nos permitiu o prolongamento do contacto com a curiosa leitura dêsses objetos, embrulhamos e guardamos com carinho os jornais referidos.

Num dos exemplares, datado de 1914, está transcrito na íntegra um dos fabulosos discursos do saudoso patrício Ruy Barbosa (foto), proferido no Senado Federal, abordando a situação do Brasil, frente ao movimento beligerante de caráter mundial, ocorrido de 14 a 18. Uma verdadeira obra prima. Improviso brilhante, português impecável, alocução gramatical de raro valor.

Ledo o referido discurso, sentimos vergonha de conhecer certos parlamentares nacionais, confessamos. Analisando a essência do conteúdo, aquilatamos o valor da expressão e confessamos sentir inveja da capacidade oratória do grande vulto do passado.

Para nós, o referido jornal constituirá um patrimônio de nossos objetos de valor, que guardaremos com desvelo e cuidado, eternamente.

O nosso amigo, deu-nos, de presente, apenas jornais velhos. Ele talvez ignore a culminância do bem e da alegria que êsse presente, aparentemente simples, foi capaz de nos causar. Muito obrigado!

Extraído do Correio de Marília de 15 de agosto de 1956

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