Reflorestar é u’a necessidade (25 de julho de 1956)

O problema do reflorestamento é mais necessário e urgente do que à primeira vista possa parecer. A rigor, é mesmo uma necessidade das mais patrióticas.

O Brasil, embora com uma vastidão de terras “por descobrir”, considerando-se a sua pouca idade em face dos demais países do globo, apresenta-se, nesse particular, como uma verdadeira lástima.

De acôrdo com as estatísticas, cerca de 80% do combustível destinado às indústrias, meios de transportes e atividades domésticas, é representado pela lenha e carvão de lenha. Ainda conforme os mesmos dados oficiais, 500 mil hectares de matas são derrubados anualmente no país. Afóra isso, as chamadas “zonas novas” alimentam também o consumo de madeira para as moradias, etc..

No ritmo que caminhamos, nesse particular, não mui distante, o país se transformará num deserto de florestas, mesmo apesar das enormes áreas do “Brasil desconhecido”.

Tem razão o vereador J. Coriolano de Carvalho, quando manifesta publicamente a sua preocupação a respeito do problema, cuja gravidade nem todos se deram ao trabalho de estudar. Vários países da Europa, não dispõem hoje de matas, sequer para as mais comesinhas necessidades internas. Alguns até importam o chamado carvão de pedra, para suas indústrias, desviando rios de dinheiro de suas fronteiras, porque fizeram no passado, exatamente o que está acontecendo no Brasil no presente. Na Itália e na França, existem propriedades agrícolas, que não dispõem sequer uma arvore para fazer sombra! Até a África, que sempre foi mais “misteriosa e desconhecida” do que o Brasil, já apresenta claros gigantescos, que se estendem por milhares de hectares, como consequência da exploração de madeira, que tem sido carreada para Portugal, França, Itália e outras nações.

Para citar-se um exemplo que já é contundente, basta que relembremos que a própria Alta Paulista é uma zona novíssima. Analisando bem, a Alta Paulista quase não tem mais matas, por incrível que pareça. A região da Noroeste, também nova, já apresenta crise, quando muitas cidades noroestinas já estão recebendo lenha para o consumo domestico, do vizinho Estado do Mato Grosso. Ora, com a propalada mudança da Capital Federal para Goiás, daqui há algumas dezenas de anos, a lenha principiará a escassear em Goiás e Mato Grosso. Quando menos se esperar, o povo já estará “entrando” no inferno verde do Amazonas e então estará consumado o futuro do Brasil: teremos o Gigante transformado numa vastidão de terras áridas e teremos também aumentado mais uma conta no rosário de nossas importações.

O problema do reflorestamento é uma imposição nacional. O combate às derrubadas, igualmente.

Que melhor reflitam os homens do govêrno, acerca disso.

Extraído do Correio de Marília de 25 de julho de 1956

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