O revolver do Guarda Civil (05 de julho de 1956)

José Arnaldo (na foto, com o uniforme de cabo do Exército brasileiro)

O assunto é, até certo ponto, desagradável, para ser comentado. Acontece que temos necessidade de torna-lo público, com intenções de colaborar e de auxiliar um funcionário exemplar, um dos valentes e garbosos soldados que integram a democratica e querida Guarda Civil de Marília.

Aconteceu uma coisa que não deixa de ser natural, embora possa parecer extraordinária: um guarda civil, em serviço no Cine Marília, no último sábado, precisou dirigir-se a uma instalação sanitária. Como a do aludido cinema encontrava-se recem-pintada, o guarda civil recorreu a do Cine Bar. Muito naturalmente, desvencilhou-se de sua arma – o revolver calibre 32, carregado, pertencente à própria corporação que serve.

Preocupado em não permanecer muito tempo afastado do local de serviço, como um bom soldado, apressou-se demais, esquecendo-se a arma de fogo no cômodo referido. Só mais tarde deu pela falta, tendo procurado, inutilmente. Alguem estivera depois de sua saída, encontrara o revolver e desaparecera com ele, certamente. Indagados os presentes, ninguem poude responder, ignorando o fato. E o rapaz, profundamente ferido em seu amôr próprio, por ter sido vítima de um acontecimento inesperado, que poderá mesmo comprometer sua conduta dentro do organismo policial que ele tanto bem representa, está desolado. E com razão.

O fato é o mesmo daqueles que comumente acontecem aos caixas de estabelecimentos bancários. Ver por outra, um pagador engana-se na contagem do dinheiro, pagando a mais. Nem sempre o recebedor é honesto e devolve o dinheiro. Às vezes, póde pensar que o prejuízo será do banco, quando, na realidade, o banco nada perde, porque o funcionário responsável é obrigado a repor a diferença, sem qualquer outra desculpa.

“Ossos do oficio”, póde se dizer, nesta oportunidade. O caso do guarda civil de Marília, que deixou por esquecimento seu revolver na instalação sanitária do Cine Bar, deveria ser meditado pela pessoa que encontrou a arma. E esta pessoa deverá saber que o soldado está em situação desagradável, perante os seus superiores, se bem que tal fato não venha a representar negligencia no cumprimento do dever e sim, unicamente, um verdadeiro desastre.

Porisso, é que resolvemos citar o fato. Para fazer um apêlo veemente ao cidadão que encontrou, no W.C. do Cine Bar, o revolver referido. Que o entregue à Séde da Guarda Civil local, nesta redação, nas estações de rádios da cidade, ou mesmo a qualquer Guarda Civil. Essa pessôa não será censurada por não ter devolvido antes o revolver. Pelo contrário, será recompensada em dinheiro e terá a gratidão de um valente soldado, que se salvará de uma situação desagradável até, para sua honesta e brilhante carreira.

Aquí fica nosso apêlo: Quem encontrou o aludido revolver, que pense bem na situação dêsse Guarda Civil e o devolva. Com isso, além de praticar um áto de honestidade, prestará um grande favor a um funcionário esforçado, a um soldado da tranqüilidade pública, a uma pessôa que foi vítima de um autentico desastre moral em sua própria carreira profissional.

Extraído do Correio de Marília de 05 de julho de 1956

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