O problema do Trigo (06 de julho de 1956)

Já dissemos, inúmeras vezes, através desta mesma coluna, que, no Brasil, desgraçadamente, a maioria das coisas úteis, necessárias à própria vida nacional, dificilmente passam dois “períodos de experiências”. Para azar nosso, para azar do próprio progresso nacional.

Não ha muito, escrevemos sobre uma entrevista concedida na Capital Federal, concedida à imprensa pelo diretor da rede ferroviária do sul do país, na qual a referida pessôa fez críticas pesadas (porém verdadeiras) a vários problemas nacionais, especialmente nos que dizem respeito ao auxilio governamental aos produtores, transportes, financiamentos agrícolas, etc.. Naquela ocasião, o entrevistado fez revelações até certo ponto estarrecedoras, no que diz respeito ao trigo do sul do Brasil, que apodrece em depósitos improvisados e até dentro das igrejas (por falta de acomodações apropriadas), enquanto o Brasil continua a importar trigo dos Estados Unidos, Canadá e Argentina. Agora, por exemplo, lemos num jornal da Capital, o seguinte telegrama:

“Deverão chegar, ainda este ano, ao Brasil, procedentes da Argentina, 800 mil toneladas de trigo, que o nosso governo acaba de contratar no vizinho país, a fim de suprir faltas previstas. O trigo argentino foi adquirido à razão de 64 dollars para o produto do sul que corresponde a 65 por cento do volume total e a 58 cruzeiros o “Rosa Fé” que corresponde aos 35 por cento restante. Contudo, ao que nos foi adiantado somente regerão tais preços para as 200 mil toneladas iniciais, ajustando-se novamente de acordo com as cotações internacionais.”

Por aí, verificam os leitores, especialmente aqueles que leram o nosso artigo anterior e antes referido, a situação verdadeira da nação, nesse campo. Um senador dizia ha pouco, que no Brasil o que existe, antes de tudo, é “crise de autoridade, de ações verdadeiras”. De fato. Até nessas compras, nossa Pátria fica sujeita a pagar mais caro por 600 mil toneladas de trigo que já estão compradas e que serão remetidas oportunamente, cujos preços serão “ajustados novamente, de acôrdo com as cotações internacionais”.

Já está além de provado, que o trigo nacional, especialmente o do sul do país, é tão bom quanto ao melhor tipo do estrangeiro por nós importado. Ninguem ignora, tambem, que o Brasil já foi exportador de trigo. Então, como esplicar esse estado de coisas? Só de um modo: falta de pulso dos governos responsáveis.

Ha poucos anos, importavamos o trigo, porque não o plantavamos. Hoje não; hoje o trigo é plantado, não tem preço, não tem compradores, não temos moinhos modernos, não dispomos de meios de transportes; o cereal apodrece no sul... Mas nós continuamos a importando o produto. Até fazendo compras estapafúrdias, como é o caso dessa que o telegrama acima transcrito nos dá ciência”...

Extraído do Correio de Marília de 06 de julho de 1956

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