O advogado analfabeto (07 de julho de 1956)

Apesar de todo o exagero aparente no epígrafe de nosso artigo de hoje, nada mais existe do que a verdade, nua e crúa, crúa e núa. E o mais interessante, é que o fato passou-se no Brasil, neste nosso Brasil amado e idolatrado.

A Ordem dos Advogados do Brasil, Secção do Distrito Federal, viu-se ha pouco, em palpos de aranha, para resolver um caso “sui generis”: inscrever um bacharel em direito, que não sabe ler! Verdade, leitores. A papelada atinente ao processo, foi apresentada de acordo como manda o figurino, isto é, de acôrdo com a própria lei que regula a matéria. As petições, assinadas quase “em cruzes”, foram apresentadas de acôrdo. O candidato ao registro apresentou todos os documentos, inclusive o diploma. Preencheu, enfim, todas as exigências formais para o caso. Sem saber ler.

O fato parece até brincadeira. Se tivesse acontecido nos Estados Unidos, por exemplo, não nos causaria tanta espécie, uma vez que naquela nação irmã se verificam, à miude, fatos curiosos e verdadeiramente inacreditáveis. Mas... no Brasil, francamente! Lamentamos não conhecer os pormenores do fato, isto é, como se houve a O.A.B., para safar-se da enrascada. Concluimos, porém, que se o candidato apresentou o diploma registrado, pagando as taxas e selos devidos e entrou com a papelada em ordem, está dentro da lei. Óra, estando dentro da lei, tem que ser merecedor das prerrogativas previstas pela mesma. O erro, neste caso, não será da Ordem dos Advogados, que apenas cumpriu a vigência de um diploma legal. O erro vem de traz, da própria vida escolar (?!!) do “advogado”. Bôas intenções, é o que parece não existir nessa questão. Algum “objeto misterioso”, como se diz naquela “Marmelandia” de Max Nunes, com bom som e representado por alguns pacotinhos de “retratinhos” do saudoso Pedro Alvarez Cabral, deve ter influenciado nesse caso, sem sombra de dúvidas. Senão, como esplicar um acontecimento dêsse jaez?

Sempre se criticou, por inúmeros prismas, a bandalheira desefreada que existe no Brasil, com referência ao ensino mercantilizado. Não raro, a polícia é obrigada a arregaçar as mangas e intervir em autênticas “fábricas de diplomas” de cursos universitários. Mas depois de nos inteirarmos dêsse fato, do advogado analfabeto, pr’a nós, chega!...

Extraído do Correio de Marília de 07 de julho de 1956

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