Nova manobra à vista (12 de julho de 1956)

Indubitavelmente, a situação é de desesperar. Não existem meios e nem pessôas capazes de frear um pouco a incontida elevação do custo de vida no Brasil. Os monopolistas, com a faca e o queijo na mão, ditam as cartas a bél prazer. A classe pobre (e a média tambem) do povo brasileiro, vai vivendo aos trambolhões, num mar crescente de dificuldades, na luta pela própria subsistência.

Ninguém dá jeito. Bafejam-se providencias, divulgam-se ações, mas a situação cada vez piora mais. Desgraçadamente.

Nova manobra vislumbra-se agora nos negros horizontes da vida nacional: a sonegação da farinha de trigo, visando forçar a alta do pão e seus derivados. Forçar a alta, não será bem o têrmo, pois esses produtos não tem controle. Os derivados do trigo sobem seguidamente. O pão, se não sobe no preço, diminui em tamanho, o que vem dar na mesma.

Dissemos ha dias, nesta coluna, que mais de 450 mil toneladas de trigo apodrecem no sul, por falta de uma série de providências governamentais. Agora, queixam-se os industrializadores da farinha, em São Paulo, que as entregas do produto estão apresentando sérias irregularidades. Muitos moinhos, recusam-se a adquirir o produto nacional, que continua armazenado inclusive em igrejas católicas, no sul do país. Enquanto isso, as cotas de importação do cereal, continuam em elevação. O que podemos deduzir de tudo isso? Simplesmente que acontecerá o que está sucedendo com o famoso, doloroso e indesejável “caso do açucar”: vai já sair mais uma tira de couro dos costados da gente. Isso não tem dúvida!

Denunciou ha pouco a imprensa paulistana, que alguns moinhos importam clandestinamente o trigo americano e canadense, vendendo-o como produto nacional, sendo que no entanto, o principal Estado produtor do mantimento grita que seu produto está apodrecendo nas fontes, por falta de amparo, preços e principalmente transportes!

Para nós, não será novidade, mais essa manobra, que, a julgar pelo grande “progresso” do Brasil no sentido da elevação do custo de vida, já está até demorando um pouco. Parece até que estamos ironisando, quando na verdade estamos é rindo para não chorar. A situação desafia os governos e estes provam a sua impotência para colocar “nos eixos” muita coisa errada que campeia por aí.

Infelizmente.

Extraído do Correio de Marília de 12 de julho de 1956

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