É inacreditável (21 de julho de 1956)

No Brasil aconteceram coisas extraordinárias, como nos Estados Unidos. Só que de maneira diversa. O norte-americano é prodigioso em criar situações curiosas, emoldurar fatos umas vezes ridículos, outras ocasiões cômicos e trágicos. Regra geral, prendem-se à pessoas, refletem-se um espírito onde aquilo que se póde chamar “esportividade” supera o fator conhecido como individualismo. Já com o nacional, fatos desse jaez, curiosos, exóticos, são conhecidos à miude, como verdadeiras aberrações, onde presponta um espírito de oportunismo, egoísmo, menosprezo ao próximo, num áto indistinguível de “salve-se quem puder” ou de “puchar a sardinha para o seu lado”.

Não queremos dizer que todos os brasileiros sejam assim. É que, de modo geral, assim se apresenta a “radioscopia” do espírito da maioria de nossos patrícios.

Todos clamam da vida, jamais vimos muita gente satisfeita com seu próprio ‘modus vivendi’. O pobre, mais conformado, vai vivendo aos “trancos e barrancos”. O da classe média, sempre esperançoso de melhorar mais. O rico, insatisfeito com seus milhões, sempre procupado em aumentar as pilhas de cruzeiros de sua burra ou o número das cifras bancárias em seu nome. “C’este lá vie”, como dizem os franceses conformados e tambem os conservadores.

A verdade, porém, é que muita gente que vive por aí, a bater no peito com entusiasmo e arrotando orgulho de ser brasileira, não foge a regra. Só pensa no estômago. Os outros, que se danem. E mesmo que as possíveis melhorias sejam das mais ilegais, não importa. O “venha a nós” é a oração de todo o momento.

Agora mesmo, está noticiando a imprensa da Capital Federal, um fato verdadeiramente incrível: alguns funcionários da Prefeitura do Distrito Federal, se sancionado o novo aumento de vencimento dos servidores da Comuna, irão perceber até 126 mil cruzeiros por mês! Nem o Chefe de Governo, legalmente, tem tais proventos da Nação!

Bem, nesse particular, podemos nos ufanar de uma coisa: Deixamos até os americanos “por baixo”.

É mesmo inacreditável, mas no Brasil, tudo póde acontecer. Tudo, menos o que é indispensável ao bem estar dos brasileiros!

Extraído do Correio de Marília de 21 de julho de 1956

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