“Verdades Duras” (15 de maio de 1956)

Com o título supra, o colaborador dêste jornal, que se assina Antônio Fernão de Magalhães, publicou, no dia 1º do mês em curso, um artigo abordando a questão da criação da sonhada Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Marília.

O aludido escrito, terminou por criar no plenário da Câmara Municipal, quando o suplente de vereador Reinaldo Alves de Souza, em exercício, apresentou à Mesa um requerimento de protesto aos têrmos com que foi vasado o artigo, sob alegação de que o mesmo atacou os poderes municipais, inclusive a própria integridade do legislativo mariliense.

Nós, que somos neutros nessa questão, que somos também um dos soldados que sempre formamos nessa trincheira de lutas pela criação e instalação de um curso superior oficial em Marília, que sempre estivemos ao lado dos verdadeiros batalhadores dessa causa, poderemos, aqui, sem intenções de defender ou atacar nenhuma das partes comprometidas no caso, emitir nossa opinião a respeito do tormentoso caso.

Lemos hoje o conteúdo do referido artigo, para poder escrever. E confessamos que não pudemos perceber maldade no mesmo, ou intenções de ataques a ninguém. Percebemos, antes de mais nada, o sentido da crítica, o necessário e inadiável sentido da crítica construtiva.

É inquestionável, que a crítica foi verdadeira e dura, conforme reza o próprio título do artigo. Mas consideremo-la real. Consideremo-la real, não porque desconheçamos os trabalhos no sentido de conseguir a Faculdade, já desenvolvidos pelo povo mariliense, nas pessoas de autoridades municipais, vereadores, imprensa e própria Câmara. E, temos certeza, de que sòmente uma minoria de vereadores se sentiu atingida e ofendida. Acreditamos que a maioria recebeu a crítica como ela deve ser recebida: democraticamente.

Por nosso lado, com neutralidade, analisamos o artigo como uma crítica construtiva, que, conforme disseram os vereadores J. Coriolano de Carvalho e rev. Álvaro Simões, serve, antes de mais nada, de um alerta à própria Câmara.

Entendemos também, que o autor do requerimento obrou mal, em trazer para o plenário, um assunto que, a rigor, não carecia de ser trazido ao conhecimento da Casa e nem deveria tomar o tempo que tomou da edilidade, quando tantos serviços se encontram programados para a Ordem do Dia da sessão de sexta-feira última.

Em nosso entender, pensaríamos que os vereadores que se sentiram ofendidos pelo escrito em tela, deveriam, antes de mais nada, procurar o autor do mesmo e com êle trocar idéias ou discutir a questão. É possível, que se tal tivesse acontecido, o próprio autor do artigo tivesse, pessoalmente, exposto seu ponto de vista e talvez até elaborado um plano de ação juntamente com os edis, para reforças os trabalhos que já foram feitos a respeito.

De tudo isso, tiramos uma conclusão: O motivo principal que deve ter originado a não criação da aludida Faculdade em Marília, deve ser de inteira responsabilidade de todos os eleitores marilienses – inclusive Antônio Fernão de Magalhães e Reinaldo de Souza. Porque, os marilienses, com mais de 50 mil eleitores inscritos, não foram capazes de eleger um deputado estadual de nossa cidade! Sendo Marília, órfã na Assembléia Legislativa, temos mesmo que nos sujeitar a êsse estado de promessas permanentes, a pedir de chapéu na mão e continuar a mendigar sempre. Sim, pois todos trabalhos desenvolvidos pelo povo e autoridades marilienses, inclusive o autor destas linhas, nada mais têm sido, do que pedidos e implorações (se bem que justas e jamais pretenciosas).

Se tivesse o povo mariliense, na eleição de 3 de outubro (e nós falamos com autoridade, pois muito nos batemos, e com antecedência, pela eleição de um deputado mariliense), evitado a insensatez da dispersão de votos, consignados na maioria das vezes à aventureiros políticos e caçadores de votos em vésperas de eleições, acreditamos que a situação não estaria no pé em que está.

Guimarães Toni, Ademar de Toledo, Aniz Badra, Raul Pimzoni e Romeu Roteli, foram candidatos oficiais de Marília. Em cidades fora daqui, consta-nos que um dos aludidos candidatos teve maior votação do que na própria Marília. Isso significa desprestígio público, ou incompreensão do próprio eleitorado. E as consequências aí estão.

Promessas não mais interessam ao povo mariliense. Não dispomos de outros meios senão pedir. E com pedidos, já está provado, dificilmente conseguiremos o objetivo.

Pensamos que foi isso o que quís dizer o articulista.

E se isso foi, estamos com êle, mesmo conhecendo os trabalhos já desenvolvidos e por nós pessoalmente acompanhados algumas vezes.

Não houve desprestígio ou ataques, pensamos. Apesar de tantas lutas, nada foi conseguido a respeito. Em resumo, as lutas foram vãs. Em síntese, pedir não resolve. É necessário impor. Aí, então, é que encontramos as assertivas de Fernão de Magalhães, quando afirma mais ou menos que Marília não tem homens capazes para conseguir a Faculdade. Desculpem-nos os que se consideram atingidos, pois não há êrro nessa afirmativa. Marília não pode impor, porque qualquer imposição será traduzida em pedir, baixar a cabeça e ouvir promessas.

De tudo isso, tiramos uma proveitosa lição: no próximo pleito estadual, enviemos à Assembléia, um filho desta terra, que de fato venha a trabalhar para Marília e seus filhos. Aí, então, disporemos de um direito: o direito de exigir.

Extraído do Correio de Marília de 15 de maio de 1956

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