A velhinha “cambista” (21 de junho de 1956)

Desde que foi promulgada a Constituição Paulista de 1947, o “jogo de bicho” foi posto fora de ação (oficialmente), em nosso Estado. O mesmo aconteceu com a Loteria Estadual. Após a vigência da Carta Magna, inúmeras autoridades policiais, para impedir que continuasse a prática do aludido jogo. De um certo modo, a luta, embora tendo apresentado seus resultados positivos, não deixa também de mostrar em muitos casos, que a própria fiscalização têm sido, muitas vezes, deficiente nessa luta constante quando os praticantes do vício continuam, seguidamente, empenhados no jogo referido. Isto significa que se os bicheiros continuam a infringir a lei, a arriscar, é porque os lucros são compensadores; por qualquer insignificancia, pensamos, ninguem iria teimar tanto assim, em continuar desrespeitando a lei.

Acontece, porém, que regra geral, os fortes “bicheiros” nem sempre chegam a sofrer as consequências do impedimento policial. Como “a corda quebra sempre do lado mais fraco”, pagam os outros: o viciado que arrisca a sua “fezinha” e o “cambista” que pouco ganha com o perigoso e ilegal trabalho. É verdade.

Temos conhecimento do caso da velhinha “cambista”. Deve andar aí pela casa dos cinquenta ou sessenta anos. Pobre, ignorante. Infeliz. Está na cadeira, por ter sido apanhada em flagrante prática do jogo do bicho. A polícia fez a sua obrigação: infração realizada, prisão efetuada. Mas, analisemos o lado humano da questão. Uma anciã está na cadeia, pela prática do jogo ilegal. Ela deve ter sido empregada por alguem. Alguem que deve ter ganho mais, com menos risco de ser preso. Alguem que está impune, enquanto a velhinha amarga o sabor da detenção, na cela fria da Cadeia local.

Ultimamente o nosso colaborador, reverendo Alvaro Simões, anda formulando uma campanha contra os terríveis inconvenientes da pinga. Citando, com conhecimento de causa, uma série de males que atualmente afligem a humanidade e que tão mal retratam nosso país. Acontece, que a pinga é como o “jogo do bicho”: sofrem as consequências os que dela se servem; não os que a fabricam.

Extraído do Correio de Marília de 21 de junho de 1956

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O jogo do bicho (26 de outubro de 1974)

O Climático Hotel (18 de janeiro de 1957)

“Sete Dedos”, o Evangelizador (8 de agosto de 1958)