Nós e o “Caso do Leite” (20 de junho de 1956)

Este artigo vale de esclarecimento aos menos avisados; aos que pensam com a rapidez de um foguete e com miolos de galinha. Aos que são “peritos” em censurar, sem conhecer o “metier” de uma questão.

Nossa luta em torno do “caso do leite” nada têm de pessoal; pelo contrário, estamos combatendo idéias e ações e não homens. Estamos, antes de mais nada, como um órgão de imprensa da cidade, divulgando um acontecimento que se constitui em irregularidade e prejuizo para o próprio público mariliense. A imprensa é a tribuna de defesa do povo. Nossa missão é informar, criticar construtivamente; esclarecer a opinião pública, apontar faltas, seja de quem for, parta de quem partir.

Da mesma maneira que apontamos falhas e imprimimos censuras, publicamos encômios à pessoas ou fatos que devem ser públicos. É a bandeira do jornalismo.

Nossa luta, jamais foi a de impedir que o Sr. Romera Jr. exportasse ou industrializasse o leite. Poderia faze-lo, da maneira que bem entendesse, desde que suprisse, primeiramente, a população local. Mas, estando deixando em falta muitas famílias e exportando o produto, em detrimento dos interesses e necessidade do público, tinhamos mesmo que alertar a população. E não estamos agastados com isso; muito pelo contrário, estamos certos de que realizamos o nosso dever. E prosseguiremos.

Acontece, que o Sr. Romera, ao invês de procurar colaborar com o povo mariliense, êsse povo que o enriqueceu, está agora relegando-o a plano secundário. E não poderiamos nós, deixar de relatar o fato, conhecendo-o com minúcias, sabendo da gravidade de suas consequências.

O Sr. Romera Jr., quer se fazer de mártir; quer agora mostrar-se como o verdadeiro Jesus Cristo: injustamente cruxificado. Acontece que a população mariliense está bem ao par da questão e o Sr. Romera deve saber que não vai ser assim, a três por dois, que ele deixará de servir o público mariliense, criando um verdadeiro caso de calamidade pública em Marília. Se o Sr. Romera Jr. entendeu o nosso esclarecimento como ataques e usou-se do mesmo para pretexto, ameaçando suprimir o fornecimento de leite na cidade, seria bom que refletisse com senso; e que procurasse medir as atitudes que ameaça tomar.

Nossa luta é justa e humana; mais do que isso, é cem por cento mariliense; interprete-a o Sr. Romera e seus defensores como quiserem.

Nós continuaremos. Continuaremos porque o dia em que não divulgarmos a questão do povo mariliense e suas necessidades, deixaremos de trabalhar nesta honrosa, digna e democrática profissão de jornalistas.

Extraído do Correio de Marília de 20 de junho de 1956

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