A COMAP precisa ressuscitar (10 de maio de 1956)

Quer nos parecer que a COMAP, para os pobres, deve ser como o homem para a mulher – ruim com êle, pior sem êle.

Pelo menos, alguma coisa de freio, deve significar, desde que à sua frente se encontrem homens capazes e bem intencionados. Alguma coisa de temerosidade pode acarretar aos intermediários gananciosos, que locupletam cada mais os seus bolsos. Já está provado, que ganham mais no Brasil os intermediários do que os produtores ou os pequenos comerciantes.

Nos explicava um dia dêsses, um verdureiro estabelecido no Mercado Municipal, que não dependia da classe os constantes aumentos. A cada dia, o mesmo adquire as suas mercadorias por preços mais elevados e em consequência é forçado a aumentar o custo de suas vendas. Acontece que nós jamais acusamos o pequeno comerciante, porque se um dia o fizermos, fa-lo-emos com provas consubstanciais.

O que é inegável, porém, é que alguém deve tomar providências. Alguém deve se interessar um pouco pela bolsa dos marilienses, especialmente, os marilienses pobres. E êsse alguém, pensamos, deve ser “dona” COMAP, que precisa ressuscitar.

Uma COMAP bem orientada, que trabalhe, que efetue estudos acerca do consumo e da produção no município, impedindo, por outro lado, a saída para fóra de gêneros aqui colhidos, só poderá dar resultados satisfatórios, de vez que assim se poderá fixar preços um pouco mais humanos e não ascendentes dia a dia, como estamos conhecendo no momento.

O intermediário, que adquire do caboclo ovos, aves e frutas, para vendê-las no mercado, ganha mais do que os comerciantes que pagam impostos e têm a obrigação de servir ao público. O intermediário dita os preços.

O tomate já está custando Cr$ 38,00 cruzeiros cada quilo. Dissemos outro dia, e voltamos a repetir: o autor destas linhas presenciou no Rio de Janeiro, em vários pontos da Capital Federal, tomates de primeira categoria, importados de São Paulo, vendidos à razão de Cr$ 9,00 por unidade de quilo. E o mesmo produto que adquirimos aqui, por Cr$ 38,00 (por enquanto)!

Frutas, carne, ovos, aves, tudo, tudo enfim, estão a exigir providências. E urgentes.

Se for decretado o salário mínimo em agosto, conforme prometeu o presidente Kubitschek em Assis no dia 7 de abril último, temos a convicção de que as classes trabalhadoras irão viver, mesmo com os aumentos salariais, dias piores do que os que já vivem hoje, que são insustentáveis.

Anteontem, em Recife, o presidente da famigerada COFAP, declarou ser impossível o congelamento dos preços dos gêneros de primeira utilidade. Para s. s., a declaração pode ter sido um objeto de rotina administrativa. Para nós, afirmamos, significam negras nuvens no horizonte da própria vida nacional.

Extraído do Correio de Marília de 10 de maio de 1956

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