Aumentará o preço do leite? (09 de junho de 1956)

Sempre nos ufanamos pela diretriz que esposamos em nossa carreira: criticar de maneira construtiva, colaborar e aclamar, pugnar pelos interêsses do povo mariliense e de nossa cidade. Às vezes, no exercício de nossas funções, somos forçados a desancar censuras mais severas, quando estas se fazem necessárias.

E, nessas ocasiões, fazemo-lo perfeitamente à vontade, sem sofrer qualquer interferência ou pressão, porque nos utilizamos do processo de externar um pensamento dos mais bem intencionados.

Assim é o caso de hoje. O assunto do leite.

Estranhamos a atitude da Pasteurização, no momento atual, negando-se a fornecer o precioso liquido alimentar à quem dêle necessita. Convimos que no período invernal a produção diminui realmente. Mas a diminuição do produto, havendo bôas intenções de servir o público, não deveria prejudicar o povo, e, entendemos, diminuir temporariamente a industrialização ou o envio do mesmo para a Capital.

Acontece que a Empresa deve ter mais interesse em vender em São Paulo o artigo por um preço mais compensador, sem as despesas, os aborrecimentos e os trabalhos de entrega ainda por cima. Então, tudo faz concluir que a firma, sendo uma sociedade que poderíamos até chamar “de utilidade pública”, resolveu continuar servindo somente aqueles que já são fregueses, não admitindo o aumento de sua distribuição, de novos pretendentes, mesmo que êstes provem suas necessidades. O fáto, nessas condições, merece criticas. E ríspidas.

Em anos anteriores, segundo estamos informados, nesta mesma época, a firma teve até a petulancia de “cortar” o leite para muita gente. Quem comprava dois litros, passou a receber um e meio, quem adquiria um passou a receber meio, e assim por diante. No entanto, a remessa para fóra embora pudesse ter deminuido um pouco, não sentiu tanto êsse reflexo, como o povo mariliense.

Isso está errado!

E como um erro, deve ser corrigido.

É verdade, que a Pasteurização Mariliense Ltda. é um estabelecimento comercial, e, como tal, objetiva lucros. Mas não é justo que os meios colimados para obtenção dos lucros, firam, frontalmente, os interesses de toda uma população.

Têm aumentado as queixas que nos são dirigidas, contra êsse monopólio escudado em Lei. Sim, em Lei, pois a lei proibe que um cidadão adquira o produto de um agricultor que esteja disposto a fornecê-lo por preços mais humanos. Isso, embora, na maioria dos quadrantes do Brasil, não existam processos de pasteurização de leite. Isso, embora a própria medicina assevere que o leite convenientemente fervido torna-se isento de possíveis transmissores de doenças. Aí, a questão, seria educar o povo melhor no sentido de higiene e permitir ao mesmo a sua defesa de outras maneiras – por exemplo, adquirindo o leite por preços inferiores diretamente do produtor ou aceitando a doação que muitos fazendeiros ou sitiantes fazem a amigos que se vêem, por tais motivos, compelidos a recusar.

De todo êsse estado de coisas, tiramos uma conclusão: O leite em São Paulo anda pela casa dos doze cruzeiros um litro. Sua venda lá oferece melhores margens – e com menos aborrecimentos. A falta que existe (e está sendo melhor recalcada), será um motivo irretorquível para a próxima elevação de preço desse produto em Marília! Temos quase a certeza.

Aqui fica nosso alerta.

Que se acautele o povo, preparando-se para mais uma sangria!

Extraído do Correio de Marília de 09 de junho de 1956

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