Vejam só! (8 de fevereiro de 1956)

Não há muito, dizia um colega da imprensa local, que o jornalista, principalmente o do interior, vez por outra desagrada a alguém, quando, no exercício de seu mistér de informar ou criticar, diz aquilo que se choca diretamente contra a vontade ou o interêsse de qualquer pessoa.

O jornalista, assim como o artista de cinema ou teatro, o jogador de futebol e todos aquêles que se exibem ou apresentam qualquer coisa para o público, está mesmo sujeito a críticas. Da mesma maneira que suas ações desagradam a alguns, obtem boa receptividade e encômios por parte de outros. No entanto, muita gente não sabe bem interpretar o direito de critica do profissional de imprensa. Todos gostam de ser elogiados, todos apreciam “alguns garavetos”, mas ninguém se conforma em ver seu nome ou sua ação analisados pela crônica, seja esta escrita ou falada.

Outros, todavia, pensam de modo bastante errado: entendem que a pessoa que escreve num jornal é “um testa de ferro” e que aquêlo órgão, para agradar um, pode ir de encontro a todo mundo. Puro engano. A missão do jornalista é um pouco mais elevada. Muitíssimo mais elevada do que alguém a interpreta. Por exemplo, esta coluna diária, tem lá seus leitores. Ontem, por motivo de força maior, não foi publicada. Muita gente quis saber a razão. Muitas pessoas telefonaram para informar-se das causas. É sinal de que muitos leitores a apreciam e isto nos desvanece. Mas o que queríamos referir, neste escrito, é o fato de que o jornalista interiorano nem sempre é bem interpretado. Muitos acreditam que a obrigação do “escriba” é fazer sensacionalismo, “meter o pau”. Volta e meia, um leitor ou um amigo, nos procura, para nos solicitar alguma “descascada” contra determinada coisa ou pessoa. “Escreva contra o Prefeito que fez isto, etc.” – dizem. “Desça a lenha” na Paulista... – nos pede outro. Alguns, mais insensatos, chegam a nos solicitar diatribes contra outros, por meros caprichos pessoais. Vejam só! E dizem, como se em nosso mistér estivéssemos errados: “Se fosse eu que escrevesse, você veria”.

Nossa missão, no entanto, é bem outra. Hoje em dia, na imprensa democrática, mesmo a interiorana, não há lugar para irresponsáveis e sensacionalistas. O “tarimbeiro” da imprensa que é honesto em seu proceder, é livre em seu ponto de vista para noticiar ou criticar. Aliás, é êste o principal ponto-base da profissão. Não podemos nos prestar, como nenhum homem de imprensa, a serviços de terceiros, a agradar uns em detrimento de muitos e, em absoluto, a servir de “tábuas de bater roupa” para outros – isto é, atacar pessoas ou grupos de pessoas, por conta daquêles que não tem coragem e ombridade para ir até os mesmos, “colocar em pratos limpos” os seus desentendimentos.

Assim, sim; mas assim, também não...

Extraído do Correio de Marília de 8 de fevereiro de 1956

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