Problemas e demagogia (10 de março de 1956)

Nos balões de ensaio que se processam nos Estados Unidos, para a reeleição do presidente Eisenhower, alguma coisa está parecendo com a situação política cá no Brasil.

Vejam os leitores, a respeito, o que publicou há pouco o jornal “Diário de Notícias”, do Rio de Janeiro:

“A ‘miséria agrícola’, expressão algo exagerada, constitui um dos temas da campanha do Partido Democrata dos Estados Unidos, em luta com o Partido Republicano, que elegera o general Eisenhower no pleito de 1952. Visam os “democratas” penetrar nos meios rurais, onde cinco milhões de agricultores sofrem as conseqüências e prejuízos da superprodução de 1955, não correspondida pela exportação nem pelos auxílios nem “estoques do govêrno”. O rendimento dos agricultores, que tem diminuído, acusou baixa ainda mais danosa em 1955. As somas recebidas pelos agricultores, na venda dos produtos ou por empréstimos da “Commodity Credit Corporation”, foram de 4% inferiores a do ano anterior.

“Poderão os “republicanos”, em defesa do govêrno do general, observar que a situação dos que cultivam o solo tem decaido desde a última guerra, e não decorre do govêrno atual, visto que a renda “per capitã” na agricultura é, atualmente, inferior a quase um quarto da anterior à conflagração, conforme “Survey of Currente Busines”.

“Mas, como já observara Laski, em “The American Presidency”, a campanha contra o govêrno é mais compensadora, nos Estados Unidos, para a conquista de popularidade. E atacar o presidente constitui o melhor meio para atrair notoriedade (... “to fight the president is the high road to notoriety”). Acrescente-se que os “democratas”, adversários de Eisenhower, pregam manutenção de preços agrícolas em 90% do valor de paridade, contra o plano presidencial, que preconiza a inutilização de parte das terras atualmente destinadas à agricultura, como meio de extinguir a superprodução.

“O plano preferido por Eisenhower, com intervenção estatal mais profunda na economia privada, exigirá enormes somas para desapropriações, mesmo temporárias, em diversas regiões dos 48 Estados federados, e terá como consequência maior êxodo populacional para as cidades e grande aumento de desempregados, agravando ainda mais dois dos grandes problemas que esperam solução nos Estados Unidos.

“Êsses fatos e as circunstâncias que os envolvem desiludem, talvez, os adeptos do liberalismo econômico. E desapontam aquêles que vêem tudo róseo na opulenta Federação, onde tudo é maior, inclusive a demagogia eleiçoeira, que agora encontra motivos e “slogans” na crise decorrente da superprodução e no que os “democratas” lá denominam de “miséria agrícola”.

Extraído do Correio de Marília de 10 de março de 1956

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