A “Operação Santarém” (24 de fevereiro de 1956)

Todo crime, por mais hediondo que possa parecer, tem, lá no fundo, um resquício de razão de ser. Embora, de forma alguma, possa justificar a sua prática.

Assim entendemos, agora, a rebeldia demonstrada pelos oficiais da FAB, Veloso e Lameirão. Essas duas patentes militares de nossa gloriosa Força Aérea, ao fugirem – êste é o termo – do cumprimento do dever, conduzindo um bombardeiro da FAB, praticaram um ato condenável de indisciplina, infringindo vários preceitos do regulamento militar. Verdadeiro ato de insubordinação.

A rigor, não conhecemos os pormenores dos motivos que devam os rebelados ter se estribado, para tal proceder. De qualquer maneira, o gesto merece as mais ríspidas censuras, pela loucura que significa.

Os rebelados, segundo informam despachos telegráficos procedentes de Belém, teriam já arregimentado um contingente de 150 homens, na luta infausta que esposaram. Êsses homens, que óra fazem parte do movimento de rebeldia, por certo “não sabem com quem casaram as filhas”.

Lamentável, sem dúvida, o ato do major Veloso e do capitão Lameirão. Como se já não chegassem os desassossegos que temos sôbre nós, como se já não bastassem as responsabilidades grandiosas das Forças Armadas, agora damos um exemplo condenável aos olhos do mundo, com a contingência imposta pelos dois insubordinados, criando no Brasil, a chamada “Operação Santarém”. Quer dizer, Forças Armadas lutando contra elementos dessas mesmas Forças Armadas, que ocuparam três localidades da mesma Pátria. Melhor sintetisando, luta de irmão contra irmão dentro do próprio lar.

Doloroso exemplo!

Santarém, Belterra e Itaituba, as três localidades perdidas no sertão nortista, pacatos centros onde a civilização e o progresso registrado no sul não devem ser muito chegados, estão agora ocupados por rebeldes nacionais. O comandante e os integrantes da aludida operação, visam, como é obvio, capturar os oficiais indisciplinados, sem derramamento de sangue. Duvidamos, no entanto, que os rebeldes não estejam preparados para repelir, pelos modos mais condenáveis e mesmo extremos, a aproximação das Forças que integram a “Operação Santarém”.

Vamos aguardar os acontecimentos, a única solução que resta a esta altura.

Extraído do Correio de Marília de 24 de fevereiro de 1956

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