O preço dos aluguéis (9 de fevereiro de 1956)

A vida não anda nada côr de rosa, é bem verdade. Tudo caro, tudo difícil, tudo escasso, principalmente para os pobres, pois para aquêles que têm recursos, tudo é facil, mesmo a altos preços.

Ao par das dificuldades imperantes em vários setores da própria vida mariliense, existe um problema tenebroso, para aquêles que não possuem o lar próprio: é o preço dos aluguéis. Em Marília, êsse problema é dos mais cruciantes. Chega, por vezes, a constituir-se num autêntico abuso, um verdadeiro roubo.

Todos sabem, perfeitamente, que uma casa que seja construida nos dias de hoje, fica mesmo numa fortuna, tal o custo do material – tijolos, cal, cimento, telhas, etc.. Concordamos mesmo que uma residência recém-construida, não poderá ser mesmo locada por um preço razoável, porque assim não compensaria, nem em parte à porcentagem de um por cento do capital empregado. No entanto, à miude, em casos dêsse jaez, verificam-se abusos sem conta.

O pior, todavia, está nos preços atuais das construções antigas. Uma casa de madeira, por exemplo, localizada num bairro distante, sem conforto, sem forro, e, na maioria dos casos sem esgoto, que há dez anos passados não custou mais do que 10 mil cruzeiros, em Marília é alugada por mil e quinhentos cruzeiros mensais! Isto está errado.

Não conhecemos bem a Lei do Inquilinato. Não podemos, por isso, discutir o referido diploma legal. No entanto, pensamos que deveria da alçada municipal, a instituição de uma comissão destinada a arbitrar os preços dos aluguéis em Marília. As coisas, do jeito que andam, representam uma calamidade. Com um salário mínimo teto de mil e novecentos cruzeiros, é incrível o preço de um rancho de madeira, desconfortável e mesmo anti-higiênico, custar o aluguel de mil cruzeiros. É também um desproposito, uma casinha de tijolos, de construção antiga e muitas vezes rudimentar, construida nos fundos de outra residência, custar o aluguel mensal de dois a três mil cruzeiros.

Em Marília, muita gente vive por aí, batendo cabeça atrás de uma casa para alugar. No entanto, quem se der ao trabalho de percorrer as ruas da cidade, poderá verificar que não são poucas as residências – desde as mais modestas até as mais confortáveis – que se encontram fechadas à espera de oportunidades para obtenção de aluguéis imorais, elevados, absurdos.

É um problema que diz respeito ao público em geral. Principalmente ao público pobre, que representa a maioria. Deve ser objeto de estudos por parte do sr. Prefeito Municipal e se fôr da competência do Chefe do Executivo, deverá, de pronto, ser atacado.

Aqui fica o registro. As reclamações que a respeito temos, são incontáveis.

Extraído do Correio de Marília de 9 de fevereiro de 1956

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