Mais uma escorcha (4 de fevereiro de 1956)

Os poderes públicos continuam pusilânimes no que tange aos preços dos gêneros de primeira necessidade. Igualmente as manobras dos intermediários e controladores são ignoradas pelos homens de govêrno e desconhecidas as ações de entidades destinadas a “controlar” estoques e preços de mercadorias imprescindíveis ao consumo do povo.

Tais organismos representativos, como dissemos há dias, são mesmo aquilo que se pode chamar de “inimigos oficializados”.

Usineiros poderosos estão “cozinhando” o malfadado Instituto do Açucar e do Álcool, insistindo perante dito órgão, para conseguir mais um aumento de preço do açucar. Na verdade, tal produto já foi aumentado, sem razão justificável. O I. A. A. fez exportar quatro milhões de sacas do precioso e indispensável alimento, sob a alegação de excesso de produção. À razão de Cr$1,60 por unidade de quilo, onde o usineiro recebe mais taxa de compensação de 3 cruzeiros e um pouquinho. O consumidor porém, é obrigado a pagar o preço de Cr$9,60 pelo quilo dêsse produto. Em alguns lugares já está sendo vendido por preços superiores.

O consumo de açucar para o Estado de São Paulo, está, presentemente, garantido. O estoque existente dá com sobra. Pernambuco e Alagôas fornecerão, até maio próximo, tôda a cota de açucar que o Estado lider da Federação desejar.

Por que, então, novos aumentos? Por que, então, mais uma escorcha ao povo?

Nestes últimos dias, a farinha de trigo atingiu nova elevação. O povo principia já a sentir essas consequências. Por certo o pão será aumentado. Em última análise, o aumento será indireto, com a diminuição do peso do produto, porque não temos uma fiscalização capaz de ver essas coisas em Marília. Em consequência, o macarrão, biscoitos, bolachas e outros produtos industrializados com a farinha de trigo, irão às nuvens também.

Urge a necessidade de alguém tomar as providências devidas. É preciso que alguém se interêsse um pouco mais pela bolsa do povo, êsse povo que se sacrifica e trabalha para engrandecer Marília, e, conseqüentemente, o Estado de São Paulo, que traduz sem qualquer dúvida, o progresso do próprio Brasil.

Mas, qual! Enquanto nossos govêrnos não voltarem mais as vistas para os problemas do povo, não se interessarem mais de perto pela vida cruciante dos construtores da própria grandeza nacional, as coisas ficarão nesse pé. Em verdade, estamos à mercê dos “tubarões” e dos monopolistas, dos polvos humanos que dominam a situação a bel-prazer e dominam tudo como se fôssemos marionetes. Dançamos de acordo com o movimento imposto pelas mãos que seguram os cordéis!

O Presidente da República, que em bonitos discursos confessou-se partidário dos sofrimentos dêste grande povo brasileiro, terá, no setor do controle dos preços das coisas úteis, um motivo para provar suas boas intenções.

Já estamos cansados de sofrer.

Já estamos cansados de tantas escorchas.

Extraído do Correio de Marília de 4 de fevereiro de 1956

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