Isso é progresso (13 de março de 1956)

A revista mensal “Seleções”, apresenta sempre um compêndio de relatos interessantes para ler. Trabalho meticuloso no que diz respeito à escolha de seus artigos, apresentação gráfica impecável e um serviço perfeito de informações referentes ao progresso da técnica e da ciência, fazem com que a aludida revista agrade a gregos e troianos.

Agora, por exemplo, passando uma vista d’olhos por sôbre o número do mês em curso, deparamos com um artigo interessante. Faz referência comparativa ao progresso atual – o progresso da era atômica – com a vida rudimentar dos camponeses da Idade Média.

Em síntese, o escrito diz mais ou menos o seguinte:

Os homens da Idade Média, que viviam emergidos no analfabetismo, sem noções de progresso, de higiene, de cultura, sem amparo social de qualquer natureza, sem pagar “iapês”, seguros etc., sem conhecer cinemas, circos, futebol ou televisão, utilizavam para cozinhar o carvão vegetal. Isso, porque dentro de sua rudimentar inteligência, entendiam os nossos antepassados, que aludido combustível era o mais acessível, prático e econômico. Agora, depois de tantos e tantos anos de progresso, quando o homem de nossos dias encontra um restaurante moderno, que cobra preços astronômicos, que diz apresentar uma super-cozinha de luxo, a justificativa “está na cara”: o restaurante emprega carvão vegetal! Assim, pagamos hoje, com coisas de luxo, aquilo que nossos antepassados mais pobres consideravam normal.

As mulheres primitivas vestiam-se com as peles dos animais que seus homens abatiam para comer. Hoje em dia, os maridos dedicados lutam muito, se esforçam e se sacrificam, fazendo planos de economia, para comprar às “caras metade”, as coisas que os homens do pretérito atiravam com pouco caso às suas companheiras!

E os homens de hoje em dia, o que é que fazem quando arranjam uma folga ou tiram umas férias? Vão caçar e pescar. Gastam dinheiro com material especializado, andam às vezes centenas de quilômetros para isso. No entanto, os primitivos faziam tal, com a maior naturalidade e após, tendo das cavernas abastecidas, tratavam de descansar!

O artigo é encerrado, com a seguinte pergunta: “Será que os nossos antepassados não estão rindo de nós?”

É provável que sim – responderemos.

Extraído do Correio de Marília de 13 de março de 1956

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