Agora Também o Arroz (23 de fevereiro de 1956)

Várias vezes temos dito, nesta coluna, dos desgovêrnos que imperam no setor do descontrole dos preços, principalmente dos gêneros de primeira necessidade. E, para isso, temos citado aquilo que é um verdadeiro absurdo, uma autêntica afronta ao nacional: pagarmos o açúcar a razão de 10 cruzeiros o quilo, quando êsse mesmo produto é exportado para o Japão ao preço de Cr$1,60 por unidade de quilograma.

Agora, também o arroz entrou na dança.

Enquanto apodrecem nas fontes, toneladas dêsse precioso e indispensável cereal, segundo noticia a imprensa guanabarina, por motivos de falta de transporte, cogita-se resolver a situação, exportando o produto por preços inferiores ao que paga o consumidor brasileiro, êsse eterno sacrificado.

Despe-se um santo, para vestir outro.

Por outro lado, informa-se que as autoridades do Ministério do Trabalho estão estudando uma forma de contar com a colaboração das autoridades municipais, estaduais e federais, no sentido de que façam estudos para a extinção do impôsto de venda e consignações, atualmente cobrado sôbre as vendas de gêneros alimentícios. A idéia está sendo acolhida com entusiasmo pelas classes produtoras, tendo sido, mesmo, classificada de patriótica pelo Sindicato do Comércio Atacadista de Gêneros Alimentícios. Argumentam os representantes do comércio que de nada serve o referido impôsto, porquanto a sonegação é desproporcional e, para exemplificar, revelam que sòmente num determinado trecho da rua do Acre a sonegação vai alem de 15 milhões de cruzeiros.

O presidente do Sindicato do Comércio Atacadista de Gêneros Alimentícios também se pronunciou a respeito da extinção do impôsto em apreço.

Disse êle:

– “Talvez esteja na extinção dêsse impôsto a salvação do Brasil e do seu povo, forçando o barateamento do custo de vida em todo o território nacional”.

A medida inicialmente aventada parece um contrasenso. Enfim, já estamos acostumados e de sobejo sabemos que tudo é possível nestes brasís. Inclusive o arroz seguir o caminho do açúcar...


Extraído do Correio de Marília de 23 de fevereiro de 1956

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O jogo do bicho (26 de outubro de 1974)

O Climático Hotel (18 de janeiro de 1957)

“Sete Dedos”, o Evangelizador (8 de agosto de 1958)