O presente do Governo Americano (17 de janeiro de 1956)

O fato passou-se há tempos. No trivial das coisas corriqueiras, divulgadas muitas vezes pela imprensa, poderia ter passado despercebido para a maioria de nossa gente. A notícia, um tanto lacônica, dava conta, mais ou menos do seguinte:

Um lavrador de Minas Gerais, com dificuldades naturais de quase todos os agricultores, necessitando de um “jeep” para os seus trabalhos e condução até a área cultivada e não tendo recursos suficientes para adquirir o veículo, teve uma idéia luminosa: pedir, “na faixa”, um “jeep” ao sr. Harry Truman, então Presidente dos Estados Unidos da América. Se assim pensou, melhor executou o plano. Escreveu ao chefe do govêrno norte-americano, longa carta. Citou sua sitaucao, sua condição de lavrador, suas necessidades. Mencionou as vantagens que lhe proporcionaria um “jeep” ou outro carro, mesmo reformado e antigo, para bem desempenhar suas atividades. Assinou a carta, deitando o envelope no correio. Depois, esqueceu o fato.

Acontece que passados alguns meses, o homem teve uma surpresa. Seu pedido fôra atendido. O órgão competente da Alfândega do Rio de Janeiro, notificava o lavrador que à sua disposição encontrava-se um veículo enviado “com os cumprimentos do Presidente dos Estados Unidos da América do Norte”! O rapaz aprontou as malas, vestiu uma fatiosa “de missa” e rumou para a Capital da República. Lá teve outra surpresa, desta vez, maior: O sr. Harry Truman, atendendo à solicitação do lavrador das alterosas, não lhe enviara o “jeep” pedido e sim um automóvel de passeio, do último tipo, da marca “Packard”!

As notícias de então, divulgavam as peripécias do mineiro, na cidade maravilhosa, tentando liberar o automovel. Não sabemos mais o que aconteceu depois e nem tampouco em que pé ficaram as coisas a respeito.

O que é certo, em tudo isso, é que se o fato é verídico, o govêrno americano demonstrou um espírito de atenção especial para com o pedido. Se tal fato tivesse acontecido entre nós, o nosso govêrno, mesmo que fosse um pedido simples, não teria atendido a solicitação. A rigor, temos a impressão que tal pedido nem chegaria ao poder do Govêrno Brasileiro, tantas são as gavetas existentes antes da entrada de documentos ao gabinete do Chefe da República.

Extraído do Correio de Marília de 17 de janeiro de 1956

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