Lagrimas... (20 de janeiro de 1956)

Lágrimas de mulher, quando sinceras, tocam a sensibilidade de todos e as portas do mais empedernido coração. Quando espontâneas, são sublimes, puras, como puras são as águas cristalinas que brotam das cachoeiras. Dignas de respeito, quando verdadeiras, porque externando a convulsão de um íntimo revolto, fazem vibrar o sentimento de respeito ou compaixão.

Lágrimas de homem são coisas escassas. Principalmente hoje, quando os “barbados” vivem atormentados com as atribuições da vida de cada dia, sem tempo suficiente mesmo para outras coisas mais úteis e urgentes, “cavando” uns minutinhos para dar uma apertadela nos cintos e realizando cálculos matemáticos incríveis. Em verdade, o pobre faz extraordinárias operações de aritmética. Lida com pequeninos cifrões, tentando encobrir enormes despesas. Numa comparação grosseira, até procura, sem o desejar, imitar o milagre de Cristo; só que ao invés de multiplicar o pão e o vinho, tenta “espichar” diminutos salários para pagar grandes despesas...

Mas, voltemos ao assunto que havíamos inicialmente abordado: as lagrimas.

Muita gente ficou alarmada, nestes dias, aqui mesmo nesta denamica Marília. É que uma árvore (frondosa, é bom que se ressalte), existente lá nas proximidades do aeroporto, deu para “chorar”. E não foram poucas as pessoas que viram as “lágrimas” da grossa perobeira, feliz espécime que escapou aos machados impiedosos dos fazedores de desertos. Altaneira, é hoje um centro de atenções, um objeto de admiração e motivo de superstição para muita gente.

Um de nossos repórteres esteve no local e pôde constatar, que, na realidade, a árvore verte gostas d´água de suas folhas. Nosso companheiro achou que a mencionada árvore não chora e sim “transpira”. E deduziu que as gigantescas raízes podem ter penetrado em locais profundos, absorvendo a humidade de certos lençóis d´água, e, com o calor incrível dêstes dias, tenha eliminado parte dessa humidade pelas folhas.

O fato é que muita gente “viu” a árvore “chorar”. E nós, entendemos também que de fato a árvore “chorou”. E chorou sinceramente, se é que uma árvore pode chorar – e com sinceridade. Pois não é lá, no aeroporto, onde embarcam e desembarcam os políticos profissionais, que se banqueteiam em Marília de vez em quando, que prometem muito e nada dão à nossa cidade? Por aí deduzimos que a árvore deve ter chorado mesmo. De vergonha, bem entendido.

Extraído do Correio de Marília de 20 de janeiro de 1956

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