Não é pessimismo, não! (27 de fevereiro de 1959)

Outro dia, reunidos os redatores aqui do jornal, conversávamos sôbre assuntos diversos. A multiplicidade de questões, em comentários assim inesperados, espontâneos, traz sempre alguma coisa de útil, especialmente para quem se preocupa em encontrar um têma que se enquadre na oportunidade, para encher um espaço de jornal.

E foi o que aconteceu dessa nossa palestra “ao pé do fogo”; seguiu-nos um motivo para a croniqueta de hoje.

Falávamos sôbre a atmosfera de pessimismo, reinante em algumas camadas da cidade, dando como estagnada a fase de desenvolvimento de Marília, descrevendo como superada a espiral do vertiginoso progresso mariliense.

E propusemo-nos a pensar sôbre o fato. No pensamento, tentamos u’a análise neutra, fria. E concluimos que a razão existe mesmo, se levarmos em consideração o surto ascensional do dinamismo mariliense verificado nos primeiros vinte dias de existência de nossa “urbe”.

Está claro, Marília diminuiu mesmo um pouco o seu ritmo vertiginoso; e nem poderia ser estranhável o fenômeno, pois se a mesma trajetória inicial continuasse vigente, a cidade já estaria ligada com os municípios de Oriente e Vera Cruz, no mínimo.

Entenderam alguns em afirmar diversas vezes, que o progresso de Marília estagnou positivamente. Não é bem isso, pensamos. Firmou-se um pouco a vida da cidade, assim como a criança que cresce até um certo número de anos e depois principia a encorpar ganhando o aspecto de adulto. Depois, como adulta, a pessoa progride sob diversos aspectos. Êste é o caso de Marília. Temos já os mesmo problemas do adulto – se homem, a barba por fazer, os estudos, o trabalho, as contas, o meio de subsistência; se mulher, a moda, a toalete, a preocupação do casamento, do lar, etc..

Então surgem os problemas inúmeros, diversos daquêles da infância e do crescimento. Estamos assim. Hoje, a nossa preocupação é o setor industrial, em primeira plana. Escolas, graças a Deus, temos em número aceitável e por certo aspectos, completo. Nosso comércio corresponde, nossa sociedade, idem.

Mas da mesma maneira que a pessoa vai se tornando adulta e os problemas vão surgindo modificados, nos encontramos no que tange à ampliação de nosso parque industrial. Por exemplo, a questão da água e da energia elétrica. São fatores que dificultam e encarecem grandes indústrias, porque as origens dêsses pontos, não foram previstas para o comportamento daquilo que a cidade hoje reclama e que todos nós pretendemos. Quem duvidar, pergunte a técnico no assunto, conforme nós perguntamos.

Por outro lado, grandes indústrias não se inclinam muito a estender as suas atividades para centros interioranos muito distantes da Capital. Não poderíamos ter aqui, por exemplo, uma fábrica de automóveis, por diversos motivos: a dificuldade na aquisição de matéria prima (uma vez que nada temos entre nós), o encarecimento da mesma em face ao transporte, etc.. Além disso, um carro que fosse produzido em Marília, ficaria obrigatoriamente mais custoso, eis que seu frete para São Paulo, por exemplo, onde é inegavelmente o centro de irradiação comercial do país, encareceria mais o produto.

Assim, o problema é complexo e sob certa forma, temos que convir que se de um lado Marília apresenta deficiência no seu parque industrial, de outro não podemos ter pretensões muito elevadas.

E, nessas assertivas, não existe nenhum pessimismo.

Extraído do Correio de Marília de 27 de fevereiro de 1959

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