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Mostrando postagens de novembro, 2012

Viagem aos Pampas (II) (30 de novembro de 1973)

Quinta feira fora o dia designado para o inicio da viagem. Não fôra escolha e sim decorrência da necessidade e interesse da própria firma. Era o 15 de novembro, data consagrada à proclamação da República. Como convencionado fôra na véspera, deveria encontrar-me, antes das cinco horas da manhã, ali na Avenida, defronte o Bar Marrocos. --:-- Com uma pontualidade britânica, Clóvis apareceu com seu possante veiculo. Sem demora, deu-se a partida. Detive-me a admirar o interior do Scânia, pois antes eu jamais havia adentrado uma cabine de tal caminhão. Um banco destinado ao ajudante, uma cama dotada de colchão de espuma, bastante espaço e uma visão ampla, tanto para quem dirige, como para quem viaja. O painel e seus apetrechos, divergem dos caminhões comuns e especialmente os mais antigos e por mim conhecidos: chave geral, botão de partida, velocímetro, marca de temperatura para movimento e funcionamento com o veiculo parado, freios de mão divergentes, para o “cavalo”

Viagem aos Pampas (I) (28 de novembro de 1973)

Já tornou-se-me um hábito. Todas as vezes, quando realizo alguma peregrinação ou andança, por estes Brasis, ou mesmo pelo exterior, costumo escrever algo a respeito dessas viagens. Considero isso uma espécie de ausência de egoísmo, tentando “repartir” com os leitores, algo do que me foi dado experimentar ou observar. --:-- Já relatei, dentre outras, viagens minhas feitas à Bahia, ao Recife, Mato Grosso, Alagoas, Brasília, Argentina, Paraguai, Paraíba, Amazonas, Panamá, México, Estados Unidos, etc. Também já contei pormenores de uma viagem feita no interior de uma locomotiva da Fepasa, no trajeto de Marília à Panorama, ida e volta. --:-- Já relatei, em passado, um vôo por mim empreendido à bordo de uma avião militar inglês, da Royal Air Force – RAF, numa missão de bombardeio a depósitos de óleo no Rhur, quando da ocasião da II Grande Guerra Mundial. Igualmente já contei aos meus leitores, a sensação de viagens de mais de duas semanas num navio, em téc

Uma psicose diferente (25 de novembro de 1973)

Podem crer. O absurdo também acontece. Assim como o incrível, o extraordinário, o inusitado, o fantástico, o desnexo. Em Marília está existindo uma espécie de psicose. Uma psicose diferente. --:-- De um lado, revela o prestigio, o valor e a personalidade de um cidadão mariliense. Por sinal, respeitado e estimado. De outra parte, patenteia a existência dessa autêntica epidemia, um inconformismo em alto grau, essa dita psicose. Crônica, aparentemente incurável, mesmo sem apresentar qualquer risco de alastramento. Nem de contaminação. Sentou praça, fixou morada, dentre um pequeno grupo. --:-- Esse pequeno grupo, situa-se entre os marilienses que, no último pleito municipal, estiveram formados ao lado do ilustre engenheiro Armando Biava. Biava disputou ponderada e democraticamente as eleições. Não saiu vencedor, mas nem por isso sua pessoa apresentou qualquer metamorfose moral ou pessoal. Demonstrou a altivez de sua personalidade, na disputa

Para Carolo ler (24 de novembro de 1973)

Concentração política situacionista tem palco e séde hoje em Marília. Figuras centrais desse conclave, deverão ser forçosamente, o senador paulista Carlos Alberto Carvalho Pinto, o presidente da ARN estadual, deputado Jacob Pedro Carolo, o deputado federal mariliense Diogo Nomura, o presidente do diretório local Sebastião Monaco e o prefeito Pedro Sola. Na pauta dos trabalhos dessa concentração política figura um móvel de elevada importância para o porvir da cidade: a indicação do nome ou dos nomes do candidato ou dos candidatos, para concorrer à deputação. Falando em termos de Marília, nosso interesse maior, situa-se marcante e indelevelmente, em torno da deputação estadual. É necessário que Carvalho Pinto e Carolo saibam que Marília está saturada com a condição de sua orfandade política no Palácio 9 de Julho. É preciso, também, que ambos saibam que os marilienses autênticos, aqueles que de fato amam a cidade e se preocupam com seu futuro e sua representação, n

Para início de papo... (23 de novembro de 1973)

Por um “erro de cálculo”, esta coluna sofreu numa interrupção de três dias nesta semana. É que estive viajando e antes de partir escrevi uma série de “Antenas”, para a competente publicação. O número de escritos, todavia, foi insuficiente em relação aos dias do meu afastamento. Aqui ficam consignadas desculpas, com a devida justificativa. --:-- Regressei a Marília ao entardecer de ante-ontem, quarta feira. Durante uma semana não tive notícia alguma de nossa cidade. Assim ao adentrar a redação, quando de minha chegada, fui logo indagando do resultado do jogo do MAC no último domingo, em São José do Rio Preto. Tive uma surpresa alegre, ao conhecer o resultado do empate. Para mim, teve sabor de vitória, pois ainda continuo reputando o América como o melhor time do Paulistinha. --:-- Também na noite de ante-ontem vi pela primeira vez o número dois do novo jornal mariliense, “Diário de Marília”. A circulação desse novo confrade, igualmente alegrou-me. Rep

Uma utopia oficial (17 de novembro de 1973)

O vereador emedebista da Câmara Municipal de São Paulo, Sr. Horácio Ortiz, conseguiu que a edilidade bandeirante aprovasse uma moção assinada pelas “Mães da Periferia” da Capital paulista. E mais ainda, que a referida moção fosse (como deve ter sido) enviada ao Presidente Médici, ao Congresso Nacional e ao Governador Laudo Natel e ao prefeito da paulicéia, Miguel Colasuonno. --:-- “Para onde vão a carne, o feijão e o leite?” – perguntaram as “Mães da Periferia”. O memorial, devidamente firmado, revela a angustia dessas mães de família, ante o brutal e incontrolável aumento do custo de vida. Exterioriza o terror da fome, a dificuldade da própria subsistência. As signatárias acusam a contradição entre a “riquesa do Brasil” e os pouquinhos recursos, disponíveis para alimentação mínima dos brasileiros pobres e assalariados, afirmando que “o feijão e o arroz eram a comida dos pobres, mas agora os pobres não podem comer mais”. --:-- As autoras da moção fizeram

Hoje, Dia da República (15 de novembro de 1973)

O calendário das datas históricas da Nação assinala hoje, 15 de novembro, a efeméride do Dia da República. A República Brasileira, proclamada no dia 15 de novembro de 1989, teve como proclamante o Marechal Manuel Deodoro da Fonseca. --:-- O Marechal Deodoro da Fonseca era alagoano, nascido no dia 5 de agosto de 1827. Deodoro fizera uma carreira militar das mais brilhantes, tendo ingressado na Escola Militar do Rio de Janeiro, no ano de 1843, com 16 anos de idade. --:-- Mal terminado o curso de Artilharia, foi enviado a Pernambuco, para combater a chamada Revolução Praieira, ocasião em que se distinguiu como militar e como comandante, nos combates travados no Recife e Barra de Natuba. --:-- Em 1858, com 31 anos de idade, Deodoro viera a ser o Comandante da Escola Militar que o havia formado antes. No ano de 1864, deixando o Comando da Escola Militar do Rio de Janeiro, participou da campanha do Uruguai. Na Guerra contra o Paraguai, obteve a distinção p

Daltonismo político (14 de novembro de 1973)

Daltonismo é uma deficiência visual, que impede seu portador, de distinguir com certeza e facilidade, as diversas tonalidades de cores. O cidadão daltônico, por circunstância óbvia, não pode “tirar” carta de habilitação como motorista, pois que, incapaz é de distinguir o verde, o vermelho e o alaranjado de um semáforo. --:-- Conheço um mariliense, que nunca revelara sua condição de daltônico e que mesmo os que com ele convivem, ignoravam tal circunstância. Certa feita, observando o mesmo praticar o jogo de bochas, convenci-me dessa anomalia. Foi quando, no inicio do jogo, o adversário recolheu e separou “suas” bolas. Observei que ele prestava a atenção, onde paravam as dele, “marcando” mentalmente os locais. Quando acontecia do mesmo distrair-se e o jogo mudar o local das bochas, o mesmo ficava sem saber quais as dele, entre as vermelhas e verdes. Perguntei-lhe e o mesmo confessou. Quis saber se não conseguia distinguir nenhuma cor e a resposta foi que não, que

Influência dos mendigos (13 de novembro de 1973)

Entre nós, um fenômeno existe. Ultimamente vem ganhando forma e características crônicas e condenáveis. Que se traduz no perpetuamento de pedir, de rogar, de implorar, no aguardo de obséquios alheios. Favores que jamais se converterão em realidade, mesmo porque inexistirá a razão fundamental de seus atendimentos. --:-- Nossa cidade, sempre foi um eterno paraíso de pedintes. As coisas estão caminhando à tal têrmo e ponto, que Marilia penderá também, no terreno moral e político, para a condição de pedinte. A cidade, de acordo com o que se percebe e a julgar pela situação e “modus operandi” da política local, somados à indiferença de muitos marilienses, com um salpico indisfarçável de desamor à terra, irá (mais uma vez), pedir, mendigar. Não nas ruas, não nos bancos, não nas repartições públicas, não nas portas de residências. Terá de pedir, de chapéu na mão. Pedir à políticos estranhos, profissionais, caçadores de votos, aventureiros enfim, que jam

Como trabalhar contra Marília (10 de novembro de 1973)

1 – Os partidos políticos apresentam vários candidatos à deputação estadual. 2 – Um candidato, para ter assegurada a sua eleição, deverá obter a “mixaria” de 25.000 votos. 3 – Marilienses já iniciaram seus trabalhos de cabalo de votos para candidatos forasteiros. 4 – O eleitor mariliense, em grande escala, continua a ser apático contra Marília. 5 – Como apático e indiferente, não fica lá muito preocupado em eleger ou não um representante da cidade. 6 – No dia do pleito, o eleitor procura ir cedo à secção eleitoral, vóta em qualquer um e vai fazer sua pescaria. 7 – Os candidatos de fóra ficam tranquilos, porque sabem que aqui existe puxa-sacos e trouxas. 8 – Há eleitores que votam na esperança de alguma vantagem – vantagem que é utopia e embuste. 9 – Há quem nunca trabalhou por candidato de Marília, só por políticos de fóra. 10 – As vêzes, o cão bernento e faminto, investe contra a mão que lhe deu alimento e lhe expremeu os bernes. 11 – O elei

Pobre burro velho (9 de novembro de 1973)

Era uma vez... Um caboclo, com seu aspecto simples, seu jeito simples de todo caboclo. Por uma estrada carroçável, conduzia, puxado pelo cabo de um cabresto, um burro velho. Dois cabeludos da cidade, munidos de espingardas, divertiam-se à beira da estrada, caçando pardais e anúns. Quando o caboclo aproximava-se dos dois “moços da cidade”, tirou respeitosamente o chapéu, pronunciando seu sincero “tardi” aos rapazes. Um deles, querendo dar vazão ao seu “espírito” de frustado “gozador”, entendeu de fazer graça para o outro, “mexendo” com o caboclo. E, dirigindo-se ao homem da roça, assim falou: - Ei! Onde é que vão vocês dois? O caboclo parou, olhou para o engraçadinho, deu uma cuspidela de lado e respondeu: - Tô indo cortá capim prá nóis quatro. --:-- Estamos nos aproximando do próximo pleito eleitoral, que deverá eleger os futuros deputados federais e estaduais. --:-- O caboclo da história, pôr certo dirigia-se para cortar capim para o

O arrôto de um ex-foragido (8 de novembro de 1973)

Confesso que não sou lá muito entendido em política internacional. É um mecanismo bastante complexo, que na interpretação dos críticos especializados, pode apresentar sabores diferentes, paladares amargos ou insôssos. --:-- Com a atual crise beligerante no Oriente Médio, não estou disposto a esquentar a cabeça, porque sei por antecipação, que os judes vencerão a guerra. Se não vencerem, vai ser esta a primeira vez, que o dinheiro perderá uma causa. --:-- Vou deter-me mais perto daqui. Na Argentina. O “caudilho” Perón, concedendo recentemente uma entrevista ao jornal italiano “Domenica del Corriere”, não teve o mínimo pejo, em declarar sem temerosidade, seus “ideais” exóticos. A exemplo de Fidel Castro, “desceu a lenha” nos americanos. Anunciou que bandeará a Argentina, para a política de Pequim. Como raposa política, usou o termo “Pequim” que até o mais inocente observador, percebe que o significado é outro. --:-- Perón olvidou-se do que recentemente

Liderança política, a falta (7 de novembro de 1973)

Praticamente oito anos, é o lapso-tempo, em que Marília encontra-se órfã, no cenário político-legislativo do Estado. Completamente desamparada e sem voz no Palácio 9 de Julho, Marília é uma cidade destituída de liderança política. --:-- Os quatro anos da administração municipal passada, provaram, à sociedade, essa orfandade representativa e essa ausência de liderança política. Os poucos meses da atual fase administrativa do município, ratificam o atual estado de coisas. --:-- Difícil não é, saber-se quem (são) os culpados disso tudo. A duas classes, pode-se atribuir a responsabilidade dessa nossa falta de liderança política: de um lado, aos próprios partidos, indicando, apoiando e pretendendo a eleição de mais de um candidato. De outro, ao grosso do eleitorado local, que facilita a distribuição inequânime de sufrágios e abre as comportas, consignando preciosos votos para candidatos alienígenas. --:-- A morosidade dos trabalhos operacionais do Govern

Fagulhas de fatos (6 de novembro de 1973)

Homens trajando bermudas, como se estivessem na praia. Rapazes, metidos a engraçadinhos, dirigindo gracejos às moças e “topando” o revide de um familiar da mesma. Jovens empoleirados abusivamente sobre muros públicos. Crianças fazendo algazarras e promovendo correrias desenfreadas entre uma multidão. Gente discutindo negócios. Gente “serrando” cigarros. Vi isso, Dia de Finados, no Cemitério Municipal. --:-- Trânsito do Dia de Finados, muito bem controlado e muito bem dirigido, com várias dezenas de PMs executando serviço de orientação dos motoristas e pedestres. --:-- Crianças num bar do Estádio, domingo, embriagadas. De posse de copos de papel, pediam “um pouquinho” aos torcedores e bebiam e palestravam, quando do jogo do MAC x São Bento. Desavisadamente, um dava “um pouquinho” aqui, outro, inadvertidamente, “um pouquinho” alí. E alguns menores, estavam, sem o saber, completamente de “fogo”. --:-- Correrias infernais, de veículos, na noite de sábado último.

Amanhã, Finados (1 de novembro de 1973)

Amanhã será o Dia de Finados. Data em que os homens dedicam-se ao culto dos mortos queridos. Nos campos santos, encontram-se a saudade e o respeito. Sepulturas lavam-se, com recentes e sentidas lágrimas. Flores falam a língua da nostalgia. Parecem espelhar olhares ressequidos e cansados pela saudade. O brilho da saudade dos que já não vêm, substitui-se pelas chamas bruxuleantes das velas, que aos poucos vão se consumindo. --:-- Doces e saudosas recordações, contrastam com o amor da ausência dos que nas campas repousas. Há uma união de suspiros e preces. O silencio traduz a fala de sonhos desfeitos, relembrando ilusões anteriormente vividas. --:-- Os corações de pedra, aqueles que são céticos, os homens duros de consciência, não escapam à realidade dos fatos: curvam-se também, participam mesmo que assim não o desejem, da comunhão geral e comum. E cultuam, igualmente, a memória daqueles que partiram um dia. --:-- É a dor. Dor que se irr