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Mostrando postagens de novembro, 2010

Curso de jornalismo (29 de novembro de 1958)

Às vezes, acontece. Numa circunstância qualquer, uma pergunta qualquer, de aparência simples ou inocente, pode embaraçar um indivíduo. Sucedeu conosco tal fato, ainda há poucos dias. Uma pessoa nos parou na rua. Pessoa que embora conhecêssemos de vista, jamais soubemos o nome e onde trabalha, ou quem é a sua família. Enfim, um mariliense comum. Desculpando-se pela interrupção de nossa caminhada, nosso interlocutor fez questão de confessar-se ledor de nossos escritos e nos atirou, “de corpo presente”, uma carroçada de elogios. Pela abundância de adjetivos com que fomos mimoseados, quase chegamos a crer que David Nasser, Assis Chateaubriand e outros “cobras” fossem “café xicrinha” perto de nós. Mas, como dizíamos, as perguntas às vezes embaraçam, mesmo sendo banais. Nosso amigo espontâneo, em dado momento da palestra nos perguntou: “Como você aprendeu a escrever?” Pensando que se tratasse de brincadeira, uma vez que a pergunta nos deixara em situação um tanto esdrúxula, levamos o caso pe

Um problema educacional (28 de novembro de 1958)

Nosso companheiro de redação, reverendo Álvaro Simões, eterno preocupado com os problemas de ensino, tendo dado já, sobejas provas de seu acendrado amor pelas causas educacionais, abordou outro dia, na Câmara Municipal, um problema assaz interessante. Diz respeito à necessidade de extinção do chamado tresdobramento dos cursos primários, mantidos pelo Govêrno. Sabido é que o autor destas linhas não é professor e nem poderia, ante isso discutir a questão dentro de alicerces sólidos e irrefutáveis. Entretanto, por dever de ofício, temos a preocupação natural de apreciar as questões diversas, que digam respeito aos problemas gerais e de interêsse público. No que tange aos problemas de educação, sempre tivemos o interêsse de advogar em suas causas, pela grandeza extraordinária que tais questões encerram em nosso país. Assim é que sempre formamos ao lado daqueles que batalharam ou venham a batalhar sob qualquer forma, pela melhoria ou aperfeiçoamento das coisas educacionais. Isto posto, rest

O Divórcio (27 de novembro de 1958)

Por mais de uma vez, foi feita no Brasil a tentativa da instituição do divórcio entre nós. Por mais uma vez também, frustrada foi a idéia, que movimentou inúmeros intelectuais e estudiosos, com o acarretamento de discussões, polêmicas e apreciações sôbre âugulos diversos. O problema é complexo, dizem. Encontramos em nossa redação, correspondência dirigida ao autor desta coluna, solicitando nosso pensamento a respeito. Certo é que a carta veio com endereço errado, pois seríamos nós os menos capazes de emitir uma opinião segura sôbre tão arrebatadora questão. Não nos furtaremos, entretanto, em atender o pedido. Exato seja, representará uma opinião puramente pessoal, de competência lógica de qualquer cidadão. Como dissemos, o assunto jamais nos apaixonou de fato. Sempre ficamos à sua margem, como expectadores dos mais neutros possíveis. Isso não nos impede, entretanto, de formarmos um juízo próprio, de conformidade com nossa própria razão. Em princípio, somos anti-divorcistas, por convicç

Mais telefones para Marília (26 de novembro de 1958)

Êste jornal em especial e esta coluna em particular, sempre debateram a questão da insuficiência de telefones em Marília, maximé nos últimos tempos, quando o vertiginoso progresso ultrapassou as expectativas mais otimistas, dos marilienses e dos observadores forasteiros. Efetivamente, nossa cidade, pelo vulto de seu progresso, pelo calor de seu dinamismo, pela voragem de sua expansão em todos os sentidos, reclama, de há muito, melhor serviço telefônico, não no sentido técnico propriamente dito, porém sob o ângulo de arraigamento. No ano passado, ao conhecermos o plano da Companhia Telefônica Brasileira, no sentido de aumentar o número de telefones na cidade, manifestamos nossos aplausos pela intenção, cumulados de nossos protestos pelo modo com que se pretendeu realizar a idéia. Discordamos dos planos da CTB, porque os entendemos prejudiciais e contrários aos interêsses dos marilienses. Buscamos elementos justificativos e os encontramos na cidade de Araraquara, onde o contrato fôra fir

O colunismo Social (25 de novembro de 1958)

Noticiar fatos ocorridos dentro da sociedade, é missão imprescindível de todo e qualquer órgão de divulgação. Seja jornal ou rádio, é veículo tem o dever de noticiar o que acontece, dentro do raio de suas ações. Entretanto entre o noticiar e o nortear e insinuar, existe uma diferença enorme. O colunismo social de hoje em dia, principalmente nos órgãos de imprensa de São Paulo e Rio de Janeiro, em que pese a força e os resultados comprovados, constitui-se num verdadeiro cancro, prejudicial à própria moral e índole de nosso povo. Revolta a qualquer sêr, especialmente aquêles que constituem a maioria e que não se incluem na “panelinha”da absurdamente chamada “gente bem”, as notícias dêsse timbre. Só interessam, de fato, a u’a minoria (minoria pequena, sem redundância, sem pleonasmo). Só interessa de direito, a um grupo de boas vidas, não afeito ao “batente”, desconhecedor do “basquete”, ignorante da luta cotidiana pelo ganha pão do pobre, “boa vida” habituada ao “dolce far niente”, acostu

Mundo de mentiras (22 de novembro de 1958)

Desde pequenos, todos ouvimos a mesma cantilena de fundo sinceramente doutrinário, de que “é feio mentir”. Nas aulas de catecismo, nos ensinaram também que “é pecado mentir”. Mais tarde, no Exército, incutiram-nos na “massa cinzenta” de que “o homem não mente”. E assim por diante. Não foi preciso chegar à idade que temos, para perceber que todos fazem exatamente o contrário. Todos mentem, só que alguns mais descaradamente do que os outros. O combate à mentira é um fato e deve ser velhinho. A mentira deve ser mais antiga ainda, pois originou êsse mesmo combate. A criança mente quando faz uma travessura ou quando come um doce escondido, ou ainda, quando pratica uma peraltagem. Mente quando não estuda e mente quando “gazeteia” as aulas. Seja homem, seja mulher; o ser humano só não mente enquanto não fala e não raciocina. Todos mentem. O namorado mente à namorada e esta mente mais ainda ao candidato a sua mão – mão que traz um corpo para vestir, para tratar e uma boca para comer. O dentist

A questão de querer compreender... (21 de novembro de 1958)

Recebemos, há muitos dias, uma carta. Foi antes de interrompermos as nossas atividades, em virtude da mudança de endereço dêste jornal. A carta abordou alguns de nossos escritos, acêrca da administração do atual Presidente da República. Continuou a deixar-nos em dúvida: ou existem muitos fãs do sr. JK em Marília, ou existe um apenas, com a condição de teimoso, que se utiliza de todos os métodos, inclusive do disfarce, para nos contradizer. Nós não somos contra o sr. Juscelino Kubitschek, repetimos. Somos contra o atual Govêrno da República, cargo e não homem. Não somos estudiosos no assunto. Não somos matemáticos, financistas, observadores atinados. Somos apenas, uma pequena fração do povo. Sentimos como todos, os dissabores, as angústias, as decepções, o clima de insegurança, a ameaça do cáos moral e econômico. Sentimos que alguma coisa não está bem. Sentimos que essa “coisa que não está bem” é uma consequência direta da má rota do atual govêrno, ou melhor, do desgovêrno atual. A cart

Retornando... (20 de novembro de 1958)

Bom dia, leitores! Depois de meio mês de ausência, aqui nos encontramos novamente. Estivemos com nosso jornal fóra de circulação durante o lapso de tempo dispensado durante os trabalhos de mudança de nossa redação e oficinas. Encontramo-nos agora em novo endereço. Depois de permanência de cinco anos ali na Rua 9 de Julho, junto à “Casa das Novidades”, instalamo-nos agora no prédio n. 500 da Avenida Carlos Gomes. Nosso jornal deixou de circular durante 15 dias. Meio mês ficamos, contra nossa vontade, sem difundir e divulgar as causas e coisas de Marília, sua corrida louca de progresso, sua vertigem de dinamismo, as ações de sua gente. Nem por isso, entretanto, deixamos de acompanhar o andamento da engrenagem dessa máquina fabulosa que se chama “Marília”. Ao par das atribuições dificílima de mudança de nosso diário, estivemos também observando e presenciando o desenrolar dos acontecimentos gerais. E isso tudo, damos um pequeno resumo dos principais fatos, dos primordiais cometimentos que

“Prata da Casa” (4 de novembro de 1958)

Nésta coluna, conforme sabido é, sempre tivemos a preocupação desinteressada de realçar e ressaltar tudo o que se refere à Marília e seu povo. Quando isto não sucede, focalizamos assuntos reputados de momento e de importância e interesse geral. Não escondemos a predileção especial que nos imbui, quando se nos oferece a oportunidade de colocarmos em evidência fatos e coisas locais, objetivo que se casa perfeitamente com os propósitos de nossa missão e com os interesses de destaque das coisas citadinas. Assim é que abordaremos hoje um fato sumamente auspicioso para nossa cidade, relativamente ao campo musical. Temos valores conhecidos em Marília dentro desse setor, como todos sabem. Sem menosprezo aos demais, justo é que se destaque a sensibilidade artística de um mariliense como o violonista e compositor Octávio Lignelli. O apreciado professor de violão, cuja arte todos apreciam pela maneira fácil, escorreita e penetrante como é difundida, acaba de marcar mais um belíssimo tente néssa s

Dia dos Mortos (1 de novembro de 1958)

Hoje, Dia de Todos os Santos. Amanhã, Dia dos Mortos, dobrarão os sinos à Finados. Contritamente deverão todos reverenciar a memória e a saudade de entes queridos e amigos saudosos, hoje desaparecidos. Coroas, ciprestes, velas e flores... Ao lado disso, corações apertados, rememorando a vida daqueles que partiram. Finados! Dia de respeito, de reverência, de saudade. Data de recordações, de visitas às campas onde repousam o sono eterno, aqueles que conviveram conosco ontem e cujas lembranças nos são tão caras. Movimentos característicos da prosperidade da data, verificar-se-ão em todos os Campos Santos. Pelas ruas das cidades dos mortos, caminharão gente de todas as idades, sexos e posições sociais. Tôdas estarão igualadas em pensamentos, tôdas estarão equiparadas em idênticos propósitos, porque tôdas estarão prestando análoga homenagem a uma lembrança saudosa, a um nome querido. Terços desfilarão, dedilhados por mãos ágeis ou dedos trêmulos. Rostos contritos não poderão esconder a tris