Um “programa de saudade” (01 de junho de 1974)
Fazia um tempão que eu não
visitava a Câmara Municipal.
Uma tarde destas cismei de
aparecer por lá para tomar um cafezinho à custa do município e bater um papo
com o Toninho Neto, assessor de imprensa da edilidade.
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O colóquio, no entanto, foi
mais elástico do que imaginava, envolvendo o Bastião – o mais antigo servidor
da edilidade –, o Gino (cujo nome é Virginio), o Bentinho e sua personalidade.
Justificou-se, esse autêntico
“programa de saudade”. Em pretérito, fui frequentador assíduo da Câmara, por um
espaço-tempo de 20 anos, quase que ininterruptos.
Primei-me, durante
aproximadamente duas décadas, em ser “o segundo” a chegar na Câmara, nos dias
de sessões. Primeiro éra o Bastião e segundo era eu. Quase sempre antes do Juca
– ex-diretor da Secretaria –, do Gino, do Miguel Scarano.
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O bate-papo foi gostoso,
salpicando de reminiscências.
O Bastião lembrou as minhas
“broncas”, quando eu saia do trabalho correndo, muitas vezes sem banho, sem
jantar e sem barbear, com gravata amarrada ao pescoço, ocasiões em que as
sessões se não realizavam por falta de “quorum”.
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Lembrando-nos da antipatia, ojeriza e ir que um ex-vereador alimentava pelo meu “ cadáver”, que por várias
vezes tentara impedir meu acesso na edilidade e que “ensaiava” projeto de
Resolução, para considerar-me “persona non grata” na Câmara Municipal de
Marília.
Ao que eu afirmava, bastante
tranquilo, que se tal condição se efetivasse, eu seria o favorecido: não
precisaria usar gravata, não haveria necessidade de chegar na hora e aguentar o
desenrolar das sessões até o final, iria plantar-me na parte destinada ao
público e que a condição cogitada, iria deixar-me “à cavaleiro”, para poder
comentar ou emitir conceitos sobre a edilidade e o comportamento dos
vereadores.
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E a palestra foi sendo
revivida com fatos do passado, que iam surgindo, assim como surge gente num
comício.
Lembrei-me e comentei ao
vereador Nadir, que também ali se encontrava, de vários fatos pitorescos,
muitos esdrúxulos, alguns condenáveis, operador por muitos dos edis.
O vereador admirou-se pelo
fato de eu encontrar-me “tão por dentro” das Câmaras anteriores.
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Belisário Ferreira, através
do microfone da Rádio Dirceu, foi o primeiro locutor a transmitir uma sessão da
Câmara Municipal de Marília. Depois dele, Natal Calina. Depois eu, depois
Orivaldo Silva e mais tarde Tony Filho.
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Lembrei-me de um ex-vereador,
que levava em sua pasta um revolver e que da tribuna alardeava que portava
consigo uma “máquina de fazer defunto”.
De um vereador, que uma
noite, comeu sozinho todo o presunto e o queijo dos sanduíches destinados aos
vereadores, deixando a estes somente pãezinhos.
De um outro que acabou
apresentando projeto de inauguração de um retrato na Câmara, “só por gozação”.
E assim por diante.
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Foi um “programa de saudade”
muito gostoso.
Qualquer dia destes vai
acontecer a “segunda parte”.
Extraído do Correio de Marília de 01 de junho de 1974
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