A Agiotagem (22 de março de 1956)

A agiotagem é um mal que existe em tôdas as partes do mundo: em São Paulo, no Rio de Janeiro, na China, na Europa e até em Marília.

Os agiotas, são pessoas que especulam exageradamente as necessidades do próximo. Esfolam, exigindo tôdas as garantias morais e legais. Usufruem taxas de juros muitos furos além do limite estabelecido por lei.

Tão ou mais perniciosa do que o próprio jogo do bicho é êsse cancro que se chama agiotagem. Muita gente, mesmo aquêles que condenam e repudiam êsse expediente, tem lá, um dia ou outro, necessidade de solver um compromisso urgente e inadiável. Vezes, porém, nenhum recurso se apresenta para lançar-se mão. Então, é inevitável: recorrer ao agiota. Êste, nem sempre “trabalha” descaradamente. Regra geral, executa outra ocupação. Mas é agiota. Não confessa a sua qualidade, mas é agiota. E sendo agiota, é indesejável. Êle sabe disso. Por isso, quando o necessitado o procura, justificando a urgência, cientificando-o muitas vezes de segredos e compromissos próprios, o usurário e especulador, solta a velha “chapinha”: “Eu não tenho, mas vou falar com uma pessoa que tem... essa pessoa quer saber quem é o endossante e vai cobrar “tanto” de juros...”

O necessitado, quase sempre, sabe que não existe outra pessoa. Sabe também, que a taxa de juros extra-legais é pretendida pelo esfolador, que, qual lobo metido em pele de cordeiro, procura ainda insinuar-se “amigo” e “interessar-se” pelo infeliz, “junto à pessoa que dispõe do dinheiro”.

Em Marília existem dêsses casos.

Aliás, em tôda a parte do mundo existem fatos semelhantes. O que não existem são provas. Nada por escrito. Um título assinado e avalizado, é compromisso legal para ser saldado no vencimento. O título pode ser, digamos, de 100 mil cruzeiros. A parte interessada pode sòmente ter recebido 80 ou 85 mil cruzeiros. A dívida estabelecida é o que importa. E essa será paga. Será paga porque nenhum agiota faz negócio duvidoso. No que diz respeito a certeza de seu recebimento, é claro.

Ninguém pode tomar providências a respeito. A questão, aí, é de consciência. Bem, consciência, para os agiotas é coisa abstrata!

Extraído do Correio de Marília de 22 de março de 1956

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